Os transbordamentos recordes do Guaíba e de seus afluentes para zonas urbanas, rurais e industriais, em maio, não comprometeram de forma significativa a qualidade de suas águas. A conclusão é de um estudo comparativo realizado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental do Rio Grande do Sul (Fepam-RS) há duas semanas.
Por meio de seu Serviço de Amostragem (Samost), o órgão realizou coletas em pontos do Guaíba e do Rio Gravataí, a fim de verificar possíveis alterações nos níveis, por meio de exames laboratoriais. Os resultados preliminares do estudo foram divulgados pelo órgão no site fepam.rs.gov.br.
A metodologia envolveu a comparação do material com dados históricos dos locais percorridos. O roteiro incluiu a área norte e o trecho médio do Guaíba, bem como a foz do rio Gravataí. Foram observador parâmetros físico-químicos e biológicos listados pela resolução nº 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), tais como condutividade, oxigênio dissolvido, pH (acidez), salinidade, turbidez e presença de coliformes.
Presidente da Fundação, Renato Chagas acrescenta: “Trata-se de uma primeira ‘fotografia’ da qualidade da água nesses pontos específicos, desde o início do evento climático extremo. Os trabalhos de amostragem terão sequência, com monitoramento de outros pontos na região, além de casos específicos vinculados a empresas atingidas por alagamento. Avaliações de toxicidade aguda e possível contaminação por metais também serão realizadas”.
Documento
“Provavelmente o grande volume de água que escoou pelos rios de forma contínua após as intensas chuvas propiciou diluição dos poluentes e minimizou o seu impacto”, ressalta um dos trechos do documento. “Além disso, as amostragens foram realizadas na calha do rio, onde o fluxo contínuo da água propicia diluição e renovação das condições de qualidade.”
O texto faz, porém, uma ressalva: “Comportamento diferente pode ocorrer em locais onde a água tenha ficado estagnada, sem renovação contínua e por consequência sem diluição dos contaminantes”. Em outro trecho, são detalhados alguns dos principais efeitos desse tipo de catástrofe climática:
– Com o aumento do nível das águas, algumas indústrias ao longo das margens dos rios foram inundadas, podendo ter ocorrido a liberação de substâncias químicas e resíduos industriais nos cursos d’água comprometendo assim a qualidade desta água.
– A agricultura pode também ser fonte de contaminação, caso a enxurrada carregue para os recursos hídricos próximos um alto volume de fertilizantes, pesticidas e herbicidas. A presença elevada de nutrientes como nitrogênio e fósforo (oriundos de fertilizantes) resulta em aumento de algas, fenômeno conhecido como “eutrofização” e que consome o oxigênio da água, gerando danos à vida aquática, além da eventual liberação de toxinas.
– Outro grande problema pode ser a contaminação por esgoto não tratado. Em muitas áreas, o sistema de saneamento não é capaz de lidar com um volume excessivo de água, resultando na liberação de dejetos diretamente nos rios. Isso aumenta a presença de patógenos como bactérias Escherichia coli (E-Coli). Além disso, a matéria orgânica presente no esgoto contribuiu para a diminuição dos níveis de oxigênio na água, afetando a vida aquática.”
(Marcello Campos)