Os brasileiros ficaram menos endividados e menos inadimplentes em janeiro, segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). A proporção de famílias com contas a vencer diminuiu de 76,7% em dezembro para 76,1% em janeiro, o segundo recuo consecutivo, apontou a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor). Em relação a janeiro de 2024, quando 78,1% das famílias estavam endividadas, houve uma queda de 2 pontos porcentuais.
“Por outro lado, o estudo mostra o crescimento da percepção de endividamento, com 15,9% da população considerando estar “muito endividada”, contra 15,4% no fechamento do ano passado. O sentimento é compatível com o comprometimento da renda: em janeiro, 20,8% dos brasileiros destinaram mais da metade dos rendimentos às dívidas, o maior porcentual desde maio de 2024. Em média, as famílias deslocaram 30% dos ganhos para esta finalidade”, ponderou a CNC, em nota.
Segundo a CNC, os consumidores estão mais cautelosos na contratação de dívidas em meio ao cenário de juros elevados e seletividade do crédito, elementos que também levaram a uma piora na percepção sobre o endividamento.
“A leve melhora da inadimplência indica que houve um esforço nas casas brasileiras para equilibrar suas finanças, mas o comprometimento crescente da renda acende um sinal de alerta para a economia em 2025”, declarou o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, em nota oficial.
A pesquisa considera como dívidas as contas a vencer nas modalidades cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa.
“Apesar da queda do endividamento, as dívidas estão consumindo uma parcela maior da renda das famílias brasileiras, especialmente por causa dos juros altos e prazos mais curtos. Esse cenário pode manter a inadimplência em patamares elevados nos próximos meses”, avaliou o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, em nota oficial.
A fatia de consumidores com contas em atraso encolheu de 29,3% em dezembro para 29,1% em janeiro, segundo mês seguido de reduções. Um ano antes, em janeiro de 2024, a proporção de famílias inadimplentes era mais baixa: 28,3% tinham contas em atraso.
A proporção de consumidores que afirmaram não ter condições de pagar suas dívidas vencidas, ou seja, que permaneceriam inadimplentes, caiu de 13,0% em dezembro para 12,7% em janeiro. Essa parcela era de 12,0% em janeiro de 2024.
Mais pobres ficam menos endividados
Na passagem de dezembro para janeiro, as famílias de renda mais baixa ficaram menos endividadas. No grupo com renda familiar mensal de até três salários mínimos, a proporção de endividados diminuiu de 80,5% em dezembro para 79,5% em janeiro.
Na classe média baixa, com renda de três a cinco salários mínimos, a proporção de endividados subiu de 78,2% para 78,5%. No grupo de cinco a dez salários mínimos, houve elevação de 72,4% para 72,5%. No grupo com renda acima de dez salários mínimos mensais, essa fatia desceu de 66,1% para 65,3%.
Quanto à inadimplência, no grupo com renda familiar mensal de até três salários mínimos, a proporção de famílias com dívidas em atraso ficou em 37,8% em janeiro, mesmo resultado visto em dezembro.
Na classe média baixa, com renda de três a cinco salários mínimos, a proporção de inadimplentes saiu de 28,1% em dezembro para 27,5% em janeiro. No grupo de cinco a dez salários mínimos, houve elevação de 21,7% para 22,0%. No grupo que recebe acima de dez salários mínimos mensais, a fatia de inadimplentes permaneceu em 14,9%.
Apesar da melhora recente, a CNC prevê que o endividamento e inadimplência das famílias voltem a crescer ao longo de 2025: os índices subiriam a partir de março, até encerrar o ano com 77,5% das famílias endividadas e 29,8% inadimplentes. (Estadão Conteúdo)