O repertório sociocultural do candidato é um dos aspectos avaliados na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022 e citar corretamente um filme, série, filósofo ou autor pode contribuir na argumentação da dissertação e garantir pontos extras neste domingo (13).
Apesar de defenderem que o aluno não dependa de um repertório “coringa”, professores acreditam que há referências que podem ir bem em alguns contextos e sugerem uma lista com cinco nomes.
Confira algumas sugestões:
Descartes
— Pensador da Era Moderna
— Autor de “O Discurso do Método”
— Disse a frase: “Penso, logo, existo”.
Para a professora de Filosofia Ethel Beluzzi, um nome que o candidato pode ter em mente para citar na redação é o do filósofo René Descartes.
Conhecido por sua inquietação com a incerteza, Descartes questionou seus conhecimentos e crenças para investigar suas bases e desenvolveu o conceito de certeza.
“O resultado desse empreendimento é a famosa frase ‘Penso, logo existo’, na qual ele chega a sua primeira certeza: ainda que seja capaz de duvidar de tudo, ele pode contar com a certeza de que, ao duvidar, ele existe. A partir disso, ele, então, constrói todo o seu sistema filosófico”, explica Ethel.
Para ela, a iniciativa do filósofo de indagar seus saberes pode contribuir para uma redação cujo tema proponha uma reflexão, como no Enem 2020, “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”.
Zygmunt Bauman
— Sociólogo polonês
— Conceituou o termo de “modernidade líquida”
— Autor de “O mal-estar da pós-modernidade”
O Diretor de Ensino e Inovações Educacionais da SAS Plataforma de Educação Ademar Celedônio acredita que Zygmunt Bauman possa ser uma boa aposta de referência para a redação.
“Ele desenvolveu um conceito de modernidade líquida que traz reflexões sobre a fragilidade e maleabilidade em que se encontram as relações sociais, econômicas e de produção no mundo atual (pós-moderno)”, avalia.
Por conta disso, segundo Celedônio, estudar as reflexões do sociólogo na preparação do exame pode ajudar o estudante na hora de trazer referências para elaborar uma redação de sucesso com temas relacionados à sociedade, relações humanas e outras temáticas em que caiba a reflexão. Um exemplo é o tema da reaplicação do Enem de 2020: “A falta de empatia nas relações sociais no Brasil”.
Martin Luther King
— Ativista do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos
— Fez o discurso “I Have a Dream”,
— Nobel da Paz de 1964
A professora do Laboratório de Redação do Objetivo Maria Aparecida Custódio diz que Martin Luther King Jr. seria uma ótima referência para uma redação cujo tema proponha discussão de cunho racial.
“Imaginemos que o Enem proponha o tema ‘A persistência do racismo na sociedade brasileira’. O candidato poderia introduzir a redação mais ou menos da seguinte forma: ‘O ativista Martin Luther King dizia sonhar com o dia em que seus filhos fossem julgados por sua personalidade e não pela cor da pele. Esse sonho é ainda hoje partilhado por milhões de pessoas que continuam sendo julgadas e sentenciadas com base na cor da pele'”.
Segundo a especialista, o aluno pode trazer a frase para o contexto do Brasil ao traçar um paralelo da introdução com o fato de mais da metade da população do país ter raízes em países africanos.
A referência pode ser utilizada também em outros contextos de cor e raça, caso a proposta da redação permita.
Jürgen Habermas
— Pensador alemão, membro da Escola de Frankfurt
— Estudioso da democracia
— Autor de “Facticidade e Validade: Contribuições para uma teoria discursiva do direito e da democracia”
O professor de História Thiago Scott sugere que os alunos utilizem como referência o pensador Jürgen Habermas, que dedicou a vida a estudar democracia, espaço público e Estado de Direito.
Como os temas da redação em geral possibilitam uma discussão sobre democracia e cidadania que exijam uma proposta de intervenção, Scott acredita que o nome seria certeiro.
“Habermas sempre se preocupou em discutir as questões que envolvem as minorias, a universalização de direitos e reconhecimento da diferença, pensando a democracia como um procedimento, onde os indivíduos devem discutir publicamente, analisar as problemáticas e deliberar as soluções”, explica.
Marshall McLuhan
— Canadense, teórico da comunicação
— Famoso por defender que “o meio é a mensagem”
— Cunhou o termo “aldeia global”
Em caso de propostas que foquem em comunicação e tecnologia, Rafael Pinna, professor de redação, acredita que o conceito do pensador canadense Marshall McLuhan de que “os homens criam as ferramentas, as ferramentas recriam o homem” é uma boa referência sociocultural.
“De modo objetivo, a frase significa que os seres humanos criam tecnologias e acabam profundamente modificados por essas mesmas tecnologias. A humanidade, por exemplo, criou a internet e os meios de comunicação de massa, e essas invenções transformaram completamente a comunicação humana, o comportamento das pessoas e a sua relação com o tempo e com o espaço”, explica.
Para o professor, o conceito promove uma reflexão profunda da relação do ser humano com seu entorno, o que permite a utilização da frase em outros temas.
“Trata-se de transformação profunda na relação do homem com ele próprio, por isso um repertório extremamente versátil para ser usado em temas de todos os outros eixos, como meio ambiente, questões sociais, saúde, ciência, arte, cultura, direitos, cidadania, educação e economia”, completa.