Segunda-feira, 16 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 16 de dezembro de 2024
Nem todo ex-general do governo de Jair Bolsonaro teve que encarar o rancho de sábado à noite em quartel. Enquanto Walter Braga Netto amargava a primeira noite de prisão por tentativa de golpe, na Vila Militar, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, seu ex-colega de governo general Eduardo Pazuello degustava delícias da cozinha asiática no restaurante Si-Chou, em Ipanema.
Quando era ministro de Bolsonaro, Pazuello subiu em palanque e fez discurso, contrariando Estatuto das Forças Armadas que proíbe participação em evento político. O Comando do Exército, na ocasião, avaliou que não houve transgressão disciplinar e arquivou o caso. Outros tempos.
Sinuca de bico
Em outra frente, a prisão preventiva de Walter Braga Netto (PL), por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, no último sábado (14) obrigou o comando do Exército a realizar um malabarismo para acomodar o ex-candidato a vice de Jair Bolsonaro nas instalações da instituição. Por lei, militares da reserva e da ativa têm direito a cumprir pena em dependências das Forças Armadas, mas um general de quatro estrelas como Braga Netto nunca havia sido preso em um período democrático.
O ineditismo provocou uma sinuca de bico, já que o estatuto militar prevê que o oficial preso fique sob custódia de uma unidade chefiada por alguém de patente superior. Como o ex-ministro de Bolsonaro migrou para a reserva no topo da carreira, a solução seria levá-lo para o Comando Militar do Leste, no Centro do Rio, atualmente sob a chefia do comandante Kleber Nunes de Vasconcellos. Braga Netto, aliás, comandou a divisão entre 2016 e 2019.
Porém, a unidade sediada no Palácio Duque de Caxias não dispõe de instalações adequadas para a improvisação de uma cela. A solução foi encaminhá-lo para a 1ª Divisão do Exército, no bairro da Vila Militar, Zona Oeste da cidade. Apesar de ser chefiada por um general hierarquicamente abaixo de Braga Netto, a Força se valeu do argumento de que a unidade está subordinada ao Comando Militar do Leste.
O episódio lança luz sobre o dilema do Exército diante do avanço do inquérito do golpismo, que apura o plano para impedir a posse de Lula e manter Bolsonaro no poder. Segundo a PF, Braga Netto foi um dos líderes da trama, mas a investigação também mira outros generais de quatro estrelas, a exemplo dos ex-ministros Augusto Heleno (GSI) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), que também podem acabar atrás das grades. As informações são do jornal O Globo.