Terça-feira, 19 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de julho de 2020
O ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller, alertou nesta quarta-feira (1º) para uma nova onda de refugiados na Europa, caso a Comissão Europeia não disponibilize mais fundos para combater as consequências da pandemia do coronavírus nos países em desenvolvimento.
“Infelizmente, a mensagem de que a pandemia desencadeou uma grave crise econômica e de fome nos países em desenvolvimento e emergentes ainda não chegou a muitos governos – nem mesmo na UE”, afirmou Müller. “Bruxelas realocou dinheiro para esforços de ajuda, mas até agora não disponibilizou um único euro adicional para o combate dessa situação dramática. Isso é vergonhoso.”
O ministro enfatizou que, “se não derrotarmos o vírus em todo o mundo, ele voltará como um bumerangue”. “Então, nosso sucesso no combate ao coronavírus [em nossos países] será aniquilado, sem mencionar novas ondas de refugiados.”
Müller lembrou que a Comissão Europeia planeja orçar 1,1 trilhão de euros para os próximos sete anos e empregar 750 bilhões de euros adicionais para mitigar os efeitos da pandemia nos países-membros da UE. “Mas os fundos para a África, por exemplo, só devem ser aumentados em 1 bilhão de euros por ano. É uma grande desproporção”, reclamou.
“Dessa forma, não seremos capazes de lidar com tarefas futuras, como preparação para pandemia, proteção climática e reconstrução econômica e novos empregos para a população africana, que cresce rapidamente”, disse Müller, se dizendo a favor de um programa abrangente de reconstrução e estabilização para os países atingidos no valor de 50 bilhões de euros.
Por sua vez, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) apelou ao governo alemão que faça da proteção aos refugiados uma das prioridades de sua gestão à frente da União Europeia (UE), mesmo em tempos de pandemia. A Alemanha assumiu nesta quarta a presidência rotativa da UE.
“O vírus não conhece fronteiras e afeta a todos nós”, disse Gonzalo Vargas Llosa, representante do Acnur para assuntos da UE, ressaltando que as pessoas deslocadas estão em maior risco. “Com apoio político e financeiro, a UE pode contribuir para superar uma crise global e proteger melhor os refugiados”, destacou.
Segundo o Acnur, 85% dos refugiados em todo o mundo encontram refúgio em países em desenvolvimento, onde os sistemas de saúde se encontram sobrecarregados. A entidade ressalta ser necessário um financiamento flexível para esses países e para apoiar os deslocados.
O ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, anunciou que almeja uma reforma do sistema de concessão de refúgio na UE durante os seis meses da Alemanha na presidência do bloco. Seehofer quer transferir a decisão sobre solicitações de refúgio para as fronteiras externas da UE, para tentar reduzir o número de refugiados que entram no bloco.
A ideia, entretanto, enfrenta resistência do Partido Social-Democrata (SPD), parceiro na coalizão de governo alemão, além de ser controversa entre os países da União Europeia.