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Então ministro de Bolsonaro, Anderson Torres assistiu Brasília “pegar fogo” enquanto jantava com a família

Interlocutores que mantiveram contato com o ex-ministro nos últimos dias o descrevem como "abalado" e "angustiado". (Foto: Elaine Menke/Câmara dos Deputados)

O então ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro (PL), Anderson Torres, jantava com sua família em Brasília, no dia 13 de dezembro, quando a cidade foi atacada por bolsonaristas após a diplomação de Lula.

Os terroristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal, colocaram fogo em carros, ônibus e depredaram patrimônio público. O que Torres fez? Nada. Continuou jantando.

O ministro estava em um restaurante de bacalhau. Ao lado, em uma mesa próxima, estava o senador Renan Calheiros.

Ao ser avisado sobre os ataques, Calheiros estranhou. “Impossível, o ministro da Justiça está aqui”. Ao saber dos ataques, o senador viu que Anderson Torres continuava jantando tranquilamente com a família enquanto Brasília pegava fogo.

Torres era o responsável pela Segurança Pública do País naquele momento e deveria, como ministro, ter uma posição ativa, diante do que estava acontecendo. Contudo, ficou mais duas horas no restaurante. Teve tempo de comer e desfrutar de sua sobremesa.

Os atos daquele dia podem ser classificados como uma espécie de ensaio técnico para o terrorismo visto na capital federal no domingo (8), com invasão e depredação da sede dos três poderes.

Exoneração

Foi publicada, no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) dessa segunda-feira (9), a exoneração do secretário de Segurança Pública, Anderson Torres. A medida ocorre após os ataques terroristas às sedes dos Três Poderes, em Brasília, no domingo.

A demissão de Torres, que foi ministro da Justiça e Segurança Pública do governo de Jair Bolsonaro (PL), foi anunciada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), durante os ataques. O ex-secretário era tido como “homem forte” de Bolsonaro e a nomeação dele para o cargo causou desconforto com integrantes do governo Lula (PT).

A exoneração de Torres foi assinada por Ibaneis Rocha. Na madrugada desta segunda, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou o afastamento do governador por 90 dias. O cargo deve ser assumido pela vice, Celina Leão (PP).

Já o presidente Lula determinou intervenção federal na segurança pública do DF. Na prática, isso significa que o governo federal será responsável pela área na capital. O interventor nomeado para o cargo é Ricardo Cappelli.

A Advocacia-Geral da União (AGU) também pediu a prisão de Anderson Torres, por omissão na repressão aos ataques. Ele está de férias em Orlando, nos Estados Unidos, mesma cidade onde está Bolsonaro.

Após os casos de terrorismo, ele divulgou uma nota negando conivência nos atos e os classificando como “barbárie”. “Lamento profundamente que sejam levantadas hipóteses absurdas de qualquer tipo de conivência minha com as barbáries que assistimos”, escreveu em rede social.

Nomeação polêmica
Antes de ser ministro do governo Bolsonaro, Anderson Torres foi secretário de Segurança Pública do DF, entre 2019 e 2021. Após deixar o governo federal, ele voltou ao cargo e foi nomeado por Ibaneis Rocha em 2 de janeiro, um dia após a posse.

Segundo apuração da colunista do g1 Andreia Sadi, o pedido para retornar à pasta partiu do próprio Anderson Torres, e causou reações em integrantes do governo Lula (PT) e até de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), já que o ex-ministro era considerado “homem forte” de Bolsonaro, e a escolha ocorreu em meio a uma escalada de tensões.

No dia 5 de janeiro, o ministro da Justiça, Flávio Dino, publicou uma portaria que impede que servidores vinculados ao ministério e que respondam a processos criminais ou administrativos sejam cedidos para outros órgãos da administração pública. Torres é delegado da Polícia Federal.

O ex-ministro responde a dois processos no Supremo Tribunal Federal (STF). Um dos processos é por vazamento de inquérito sigiloso do Tribunal Superior Eleitoral. O outro é pela participação na live em que Bolsonaro atacou as urnas eletrônicas e apresentou mentiras sobre o sistema eleitoral.

A medida poderia impedir Anderson Torres de continuar no cargo. À época, Ibaneis chegou a dizer que faria um novo requerimento ao Ministério da Justiça para manter o secretário. Mas no domingo, anunciou a demissão dele.

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