Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de agosto de 2024
O jogador do Nacional do Uruguai Juan Manuel Izquierdo, de 27 anos, morreu na noite de terça-feira (27) após dias internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Segundo o hospital, a causa do óbito foi “morte encefálica (cerebral) após parada cardiorrespiratória associada à arritmia cardíaca”.
O atleta passou mal em campo durante uma partida na última quinta-feira devido à arritmia, que é uma alteração nos batimentos do coração. Ele foi levado ao hospital, mas, quando chegou, estava sofrendo uma parada cardiorrespiratória – quando o coração deixa de bater, e a pessoa também para de respirar – e precisou ser reanimado. Exames nos dias seguintes já haviam revelado um “quadro neurológico crítico”.
“Arritmias são alterações do ritmo cardíaco que podem ser graves ou não. Precisamos entender se ela deixou a frequência irregular, se acelerou os batimentos, se desacelerou, cada caso tem uma conotação diferente. E o que depende também é a causa subjacente, o mecanismo que levou àquela alteração do ritmo”, explicou o cardiologista Alexsandro Fagundes, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac).
O médico esclareceu que, no momento em que o coração para, o tecido que é mais rapidamente afetado pela falta da oxigenação do sangue bombeado pelo órgão é o cerebral. Segundo o especialista, após cerca de cinco minutos, o risco de sequelas neurológicas irreversíveis é alto:
“Geralmente a taquicardia ou fibrilação ventricular é o quadro mais comum de arritmia que leva à parada cardíaca. Ela faz com que a frequência do coração fique inaceitável, acima de 200, 300 batimentos por minuto, o que leva a musculatura do órgão a parar de contrair. Com isso, o coração deixa de mandar sangue para o organismo, e o primeiro efeito é que a pessoa perde a consciência.”
O especialista explica que as células do corpo estão vivas graças ao oxigênio transportado pelo sangue arterial bombeado pelo coração. Por isso, quando esse mecanismo é interrompido, os tecidos começam a ser afetados:
“Se o coração para, tem alguns tecidos que aguentam horas sem oxigenação, mas o cérebro é o tecido mais nobre que temos, e qualquer redução nesse combustível em minutos já faz uma diferença muito grande.”
Em relação às causas da arritmia, na segunda-feira o Secretário Nacional de Esportes do Uruguai, Sebastián Bauzá, chegou a dizer à rádio uruguaia Carve Deportiva que Izquierdo já tinha apresentado uma “leve arritmia” em testes médicos realizados por um programa do governo há 10 anos: “Ele passou por um eletrocardiograma. Juan tinha 17 anos, tinha uma pequena arritmia e foi informado.”
Fagundes explica que, acima dos 35 anos, uma causa comum de uma arritmia grave e súbita como a do atleta é uma obstrução das artérias, como por placas de gordura, que não havia sido percebida, mas que estivesse “prestes a levar a um infarto”. Já entre os mais jovens, como Izquierdo, “geralmente as causas são doenças geneticamente adquiridas ou hereditárias”, muitas vezes também desconhecidas.
Quando o caso é grave a ponto de causar uma parada cardiorrespiratória, Fagundes destaca que cada minuto conta. Nessa hora, o médico explica que é preciso reconhecer o quadro e iniciar imediatamente as manobras de ressuscitação cardiopulmonar, que realizam uma compressão no tórax da vítima para manter o fluxo sanguíneo até o socorro chegar com um desfibrilador – aparelho que produz um choque elétrico no coração para restabelecer o ritmo cardíaco.
“Se não houver o socorro imediato e o desfibrilador, a chance de sobrevivência chega a menos de 15%. Quatro, cinco minutos são o máximo de tempo que o tecido cerebral aguenta ficar sem a oxigenação. Depois disso, a sequela pode ser irreversível. E até colocar na ambulância, levar para o hospital, não leva menos de 20 minutos, por isso é importante ter uma estrutura pronta”, complementa.
No caso de Izquierdo, segundo as informações divulgadas até agora, a parada cardíaca teria iniciado quando o atleta já estava a caminho do hospital.
“Não sabemos exatamente como foi na ambulância. E se o socorro demora um pouco mais no desfibrilador, mas a compressão está adequada, pode ser que a pessoa fique sem sequelas mesmo que o choque dure mais de 5 minutos. Só que a partir do momento em que o tempo vai passando, a expectativa de recuperação sem sequelas se torna muito baixa”, avalia Fagundes. As informações são do jornal O Globo.