Domingo, 26 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 10 de janeiro de 2023
Os ataques às sedes dos três Poderes da República no domingo (8) expuseram um conjunto de falhas das forças de segurança. Elas vão desde a falta de planejamento para se precaver de uma investida anunciada a indícios de omissão por parte do governador do Distrito Federal (DF), Ibaneis Rocha (MDB), afastado do cargo por ordem de Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O ministro da Justiça, Flávio Dino, classificou o episódio de “Capitólio brasileiro” e avaliou que uma mudança promovida pelo governo do DF no esquema de segurança planejado reduziu o número de policiais militares mobilizados e facilitou o acesso dos terroristas à Praça dos Três Poderes. O próprio Dino e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, porém, também cometeram erros que contribuíram para o desfecho, na avaliação inclusive de petistas.
Dino declarou que, inicialmente, estava prevista a instalação de barreiras na Esplanada dos Ministérios para impedir o acesso à Praça dos Três Poderes. De acordo com ele, de última hora, o governo do DF decidiu liberar a passagem dos radicais até as proximidades do Congresso. Apenas o fluxo de veículos foi interrompido.
“Isso ensejou para que essas pessoas descessem a Esplanada e, em seguida, houve o descontrole”, afirmou Dino.
Outra ocorrência indica que houve negligência das autoridades na capital federal. Na manhã de domingo, horas antes dos ataques, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) emitiu um alerta à Secretaria de Segurança do DF, entre outros órgãos, de que manifestantes planejavam promover atos violentos. Os agentes identificaram que golpistas acampados em frente ao QG do Exército em Brasília estavam fazendo convocações para uma invasão ao Congresso.
Um relato do presidente do Senado em exercício, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), reforça as mesmas suspeitas. Ele afirmou ter sido procurado, na manhã de domingo, por integrantes da Polícia Legislativa preocupados com o deslocamento de manifestantes à Esplanada. O senador disse que entrou em contato com o secretário da Casa Civil do Distrito Federal, Gustavo Rocha, que o tranquilizou:
“Recebi a informação de que não deveríamos nos preocupar, porque a situação estava plenamente sob controle.”
No despacho em que determinou o afastamento de Ibaneis, publicado nas primeiras horas de segunda (9), o ministro do Supremo Alexandre de Moraes foi categórico ao afirmar que houve “participação efetiva” de autoridades de segurança e inteligência no episódio que culminou na destruição do patrimônio público. “A omissão e conivência de diversas autoridades da área de segurança e inteligência ficaram demonstradas com a ausência do necessário policiamento, em especial do Comando de Choque da Polícia Militar do Distrito Federal”, escreveu.
Os ataques deram origem a outras frentes de apuração. O Ministério Público Federal no DF instaurou um procedimento para investigar as suspeitas de omissão do comando da PM e de crimes contra o Estado democrático. Os investigadores requisitaram dados sobre o efetivo policial empregado e as orientações transmitidas à tropa, para verificar se há indícios de irregularidades.
Embora o ônus político tenha recaído majoritariamente sobre Ibaneis, lideranças petistas com trânsito no Planalto avaliam que tanto o ministro da Defesa, José Múcio, quanto Flávio Dino saíram com as imagens “chamuscadas” pelos ataques terroristas. Múcio classificou os acampamentos em frente a quartéis, de onde partiram as investidas, como “manifestações democráticas”. Em outra ocasião, sustentou que os atos estavam perdendo força.
Sobre Dino há desconfiança de que ele falhou ao acreditar na palavra e no plano de segurança de Ibaneis, um dos governadores que tinham boas relações com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Além disso, o ministro da Justiça admitiu que só havia 140 agentes da Força Nacional disponíveis para complementar o esquema de segurança. O restante do contingente, cerca de 500 homens, estava em missões em outros Estados.
Vídeos comprometedores
Imagens que circularam em redes sociais mostram cenas reveladoras da atuação das forças de segurança. Diferentes vídeos exibem policiais militares imóveis diante do avanço dos terroristas, inclusive na entrada do Congresso Nacional. Outros revelam PMs discutindo dentro do Planalto sobre prender ou não os extremistas.
A secretaria de segurança da capital federal não informou a quantidade de policiais que atuaram no domingo. O Batalhão da Guarda Presidencial e o Gabinete de Segurança Institucional, responsáveis pelo Planalto, também não confirmou o contingente disponível na ocasião. O STF disse apenas que destacou todos os seus agentes para trabalhar na data, mas sem esclarecer quantos eram. Já a Polícia Legislativa do Senado esclareceu que empregou a totalidade do seu efetivo, de 60 homens, enquanto a polícia da Câmara disse que tinha cem agentes no local.