A tensão entre ucranianos e russos não vem de hoje. Os dois países têm uma longa história compartilhada. No início dos anos 1930, a Ucrânia, nação conhecida pelas terras férteis e grande produção de cereais, não tinha mais o que comer. A nação não era independente. Fazia parte da União Soviética (1917-1991).
Quando Vladimir Lênin era o líder, nos primeiros anos da confederação socialista, a Ucrânia tinha certa autonomia. Mas quando Joseph Stalin assumiu o poder, ele determinou a criação forçada de fazendas coletivas. Mesmo os pequenos proprietários — que eram tolerados por Lênin — começaram a sofrer perseguição.
A estimativa é que, entre 1931 e 1934, cerca de 4 milhões de ucranianos tenham morrido de fome. Para se salvar, muitas pessoas cometeram os atos mais extremos. Os ucranianos têm um nome para esse período: “Holodomor”, genocídio pela fome. Mesmo as gerações que não viveram a época se sentem marcadas por ela.
Desde 1991, com o fim da União Soviética, a Ucrânia é um país independente. Mas sua histórias e a do país-vizinho se confundem. A começar pelo fato de que a Ucrânia é o berço da Rússia moderna.
Ao longo dos séculos, a Ucrânia fez parte de impérios, sofreu inúmeras invasões, foi incorporada pelos russos e pelos soviéticos, se tornou independente, mas nunca resolveu por completo sua relação com a Rússia.
O clima na fronteira é tenso pelo menos desde 2014. Cerca de 13 mil pessoas já morreram no conflito. E agora, mais incerteza, sob a liderança, na Rússia, de Vladimir Putin.
A possibilidade de a Ucrânia entrar para a Otan, a aliança militar criada pelos Estados Unidos em 1949, durante a Guerra Fria, é o centro da tensão atual.
Otan
A aliança militar da Otan foi criada pelos Estados Unidos em 1949, durante a chamada “Guerra Fria” entre os blocos capitalista e socialista. Nos últimos anos, os ucranianos vêm fazendo movimentos de aproximação.
Para entender melhor o que está acontecendo – o calafrio que meio mundo sente com essa história – é importante primeiro olhar para o mapa. A Ucrânia praticamente separa a Rússia do resto da Europa. Não é um território qualquer.
Como se sabe, a Rússia e não só a Europa, mas boa parte do Ocidente, vivem se provocando, se acusando, medindo forças. Os líderes se encontram. Existe uma relação diplomática – comercial, principalmente -, mas, com frequência, sai faísca. Acusações de espionagem, de influência política, o tal jogo de poder.
E quando a gente fala de Ocidente nessa disputa, leia-se principalmente Otan, a aliança militar que hoje inclui 30 países. Dentre estes, potências como Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e França.
A existência da Otan por si só é um recado diário para Rússia, de que tem um gigante militar de olho. A Otan foi criada durante a Guerra Fria, em 1949, na capital dos Estados Unidos, Washington. Numa segunda-feira daquele ano, depois de muitas reuniões, países assinaram um pacto basicamente para juntar forças e impedir o avanço da influência socialista, que dominava o leste da Europa depois da Segunda Guerra Mundial.
Com o fim da União Soviética, em 1991, a Otan passou a trabalhar mais para garantir os interesses econômicos e políticos dos países que fazem parte da aliança. É aí que entra a Ucrânia.
Nos últimos 40 anos, a Otan e a União Europeia foram se aproximando e seduzindo os países do centro e do leste da Europa, que fizeram parte ou foram influenciados pela União Soviética.
Assim, de olho em mais estabilidade econômica e política, República Tcheca, Hungria, Polônia, Eslovênia e os países bálticos, por exemplo (Estônia, Letônia e Lituânia), foram aos poucos aceitando fazer parte da Otan e/ou da União Europeia – e sempre a contragosto da Rússia. Afinal, os russos precisam de uma “área de influência”. É uma forma de marcar posição – algo similar à urinada territorial de alguns animais.