Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 23 de agosto de 2019
A crise internacional desencadeada pelas queimadas na Amazônia pode afetar o comércio exterior brasileiro e, também, dificultar a conclusão de acordos comerciais do Brasil com outros países, alertam especialistas.
Os principais produtos da pauta exportadora brasileira que, no exterior, são associados ao risco de desmatamento, como soja e carne, são vendidos principalmente para a China e outros países asiáticos.
Mas, com a economia globalizada, muitos consumidores e empresas exigem certificações da cadeia de fornecedores na hora de ir às compras. E, assim, as declarações de líderes europeus podem pressionar por barreiras aos produtos brasileiros.
A soja é o principal produto da exportação brasileira. Este ano, até julho, 75% das vendas de soja brasileira foram para a China. O segundo maior comprador é a Espanha, com 3,7%. No caso da carne, China tem 27% de participação nas exportações brasileiras e Hong Kong, 14%.
Os chineses lideram o ranking de importadores do agronegócio brasileiro, garantindo um total exportado de US$ 35,4 bilhões no ano passado. A União Europeia está na segunda posição, com US$ 17,8 bilhões, seguida por Estados Unidos (US$ 6,7 bilhões), Hong Kong (US$ 2,5 bilhões), Irã (US$ 2,2 bilhões) e Japão (US$ 2,1 bilhões).
Além disso, o pleito do país para entrar em organizações como a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que reúne as principais economias ricas do planeta, pode estar ameaçada.
Entenda, em cinco pontos, os riscos da crise ambiental à economia.
Acordo Mercosul-União Europeia
França e Irlanda afirmaram nesta sexta-feira (23) que não vão ratificar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, concluído em junho após 20 anos de negociação. Analistas como o diplomata Rubens Ricupero, avaliam que há um “perigo real” do acordo não sair do papel.
Futuros acordos comerciais
Se o acordo entre Mercosul e União Europeia parece mais difícil, novos acordos comerciais também tendem a perder ímpeto. O bloco sul-americano anunciou nesta sexta-feira um acordo com o Efta , que reúne outros países europeus, como a Noruega.
Mas a recente guinada do governo brasileiro em busca de novos acordos comerciais pode enfrentar mais dificuldades num cenário de imagem internacional sobre o Brasil abalada.
Barreiras a produtos brasileiros
Por pressão dos consumidores e também dos governos, as empresas estão cada vez mais rigorosas com exigências sobre a origem dos produtos na sua cadeia de fornecedores. Como os governos não podem adotar barreiras sem responder às normas internacionais, como as da Organização Mundial do Comércio, eles podem pressionar empresas locais a dificultarem a entrada de produtos brasileiros, alerta Marcos Jank , professor e pesquisador sênior de agronegócio global no Insper.
As empresas podem, “por exemplo, exigir certificações mais duras para produtos como carne e soja”, diz Jank.
“Na atual situação, o maior risco para o Brasil é este cenário de mais exigências por parte das empresas que compram o que é produzido pelo país, principalmente as commodities.”
Pressão de consumidores
A Europa tem grandes produtores de alimentos, como Polônia, França e Irlanda. O consultor internacional e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil Welber Barral lembra que esses países competem com o Brasil nas vendas de proteína animal.
Produtores desses países podem usar o argumento de preservação do meio ambiente para incentivar o boicote a produtos brasileiros e, assim, aumentar as vendas locais.
Entrada na OCDE
O Brasil pediu para entrar OCDE, que reúne 37 países desenvolvidos, em 2017, buscando um selo de aprovação exigido por muitos investidores institucionais.
Mas o ingresso do país depende da possibilidade de os membros da organização concordarem que o governo brasileiro está cumprindo uma série de recomendações, muitas delas envolvendo padrões ambientais.
Agora, a chancela para o ingresso do País no grupo está sob risco, diz Gabriel Petrus, diretor executivo da Câmara Internacional de Comércio no Brasil.