Quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 18 de agosto de 2023
O anúncio de que o tenente-coronel Mauro Cid pode admitir à Polícia Federal (PF) que vendeu joias recebidas como presente pelo governo brasileiro a mando de Jair Bolsonaro e entregou em mãos ao político o dinheiro em espécie referente à transação de um relógio Rolex pode complicar a situação jurídica do ex-presidente, que já é investigado em várias frentes.
Foi a primeira vez em que Bolsonaro foi citado diretamente no suposto esquema de negociação de joias na mira da PF. O militar atuava como ajudante de ordens e era um dos auxiliares mais próximos do ex-presidente, sendo incumbido de uma série de atividades cotidianas, assumindo inclusive responsabilidades financeiras de Bolsonaro e sua família — como o próprio político reconheceu em diferentes ocasiões.
Na noite de quinta-feira (17), horas depois da declaração do advogado de Cid sobre a suposta confissão, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle. O pedido havia sido apresentado pela PF no âmbito do inquérito que apura o possível desvio de presentes dados a Bolsonaro enquanto ele ocupou a Presidência.
Estratégia
A estratégia da defesa de Cid é emplacar a tese de que, como militar e subordinado ao chefe do Executivo, ele devia “obediência hierárquica” a Bolsonaro. O advogado chegou a frisar que o cliente “sempre cumpriu ordens” do ex-presidente. Bitencourt acredita que, neste cenário, é possível inclusive “afastar a culpabilidade” do tenente-coronel, com a culpa de eventuais crimes recaindo sobre o responsável pelas orientações repassadas a ele — no caso, o próprio Bolsonaro.
“Ele vai prestar depoimento dizendo aquilo que é a verdade, o que realmente aconteceu. Se compromete ou se não compromete o ex-presidente, é indiferente. Cada um com suas responsabilidades. O compromisso dele é com a verdade”, avisou Cezar Bittencourt.
A situação do ex-presidente pode ficar ainda mais delicada porque Mauro Cid também aparece como personagem central em outros flancos vulneráveis de sua passagem pelo Planalto. O tenente-coronel está preso desde o início de maio em virtude de um suposto esquema de fraude envolvendo cartões de vacina da covid, que teria beneficiado sua família e também a de Bolsonaro. Conversas obtidas pelos agentes no telefone de Cid após a prisão também mostram diálogos de cunho golpista que ele mantinha com militares de alta patente.
Bittencourt planeja pleitear uma reunião com Alexandre de Moraes para acertar os detalhes de um novo depoimento do cliente à PF. Ainda não se sabe se o teor da oitiva ficaria restrito à apuração que trata das joias ou se seria estendido a outras acusações que recaem sobre Cid, como a relativa à fraude vacinal.
“Ele assumiu que errou, quer fazer mea culpa e eu prometi que vou protegê-lo, vou acompanhar. São coisas muito complicadas, ele precisa se sentir seguro. Ele vai assumir a responsabilidade da parte dele, e o resto é consequência. Cada um com seus próprios problemas”, disse Bittencourt, mantendo o tom de que as possíveis implicações da confissão para Bolsonaro não seriam um problema.
Também pesa contra Cid o fato de que o pai dele, o general Mauro Cesar Lourena Cid, também se viu envolvido no caso — agentes da PF cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao oficial na semana passada. A investigação indica ainda que Lourena Cid tinha consigo US$ 25 mil em espécie que seriam de Bolsonaro. Em mensagens, o ex-ajudante de ordens, filho do general, discute com outro auxiliar do ex-presidente como seria a melhor forma de entregar o dinheiro a Bolsonaro. Para Cid, o ideal seria evitar utilizar contas bancárias.
“Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em ‘cash’ (dinheiro vivo) aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente. Entregaria em mãos. Quanto menos movimentação em conta, melhor né?”, disse Cid na mensagem, de 18 de janeiro deste ano, data em que Bolsonaro estava nos Estados Unidos.