Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 21 de janeiro de 2024
Muitas vezes o cenário da saúde varia de acordo com a característica de cada local. Dificuldades alegadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para chegar até áreas afastadas dos grandes centros do Brasil impactam negativamente o acesso a atendimentos médicos. Em meio aos desafios, uma startup social atua para desenvolver tecnologias e tentar encurtar as distâncias entre uma assistência de qualidade e as regiões vulneráveis do país.
Fundada em 2013, a SAS Brasil tem o objetivo de levar atendimento para regiões sem acesso à saúde especializada. Com foco em tecnologia, a startup desenvolve projetos de teleconsultas e Unidades de Teleatendimento Avançada (UTA), que visam prevenir, diagnosticar e tratar doenças, na intenção de diminuir as filas de espera do SUS.
Veja detalhes do projeto, que levou as fundadoras ao Forum Econômico Mundial deste ano, e como os pontos de difícil acesso do país recebem atendimento de saúde por meio da tecnologia criada pela startup, que, com o olhar voltado também a educação, desenvolve em parceria com a Unicamp, em Campinas (SP), um laboratório de inovação, ensino e pesquisa em saúde digital.
Início
O ponto de partida do projeto foi o documentário “Quem se importa”, de Mara Mourão. No filme, Adriana Mallet e Sabine Zink, co-fundadoras da startup, deram os primeiros passos em direção a construção da SAS Brasil.
Em 2013, em parceria com o Rally dos Sertões, o grupo realizou a primeira ação. Sabine e Adriana conseguiram o apoio do evento para colocar em prática as ideias. Com um grupo de oito amigos voluntários, dois carros, duas motos e uma tenda de campanha, foram realizados 270 atendimentos em quatro cidades de Goiás (Goianésia, Minaçu, Pirenópolis e Porangatu) e uma em Tocantins (Natividade).
As idealizadoras contam que, entre erros e acertos, o primeiro ano ajudou a entender o real foco que o projeto deveria desenvolver. A saúde especializada foi a opção escolhida para contribuir de forma efetiva com a população vulnerável.
“Nos fomos entendendo o jeito certo de fazer a diferença, ano a ano fomos melhorando o modelo, entendendo que o gargalo que queríamos resolver era o da atenção especializada. Então, não é simplesmente levar um atendimento clínico que o SUS oferece, mas focar em demandas, sua principal dificuldade”, disse Sabine.
Saúde Digital
Segundo as criadoras do projeto, as inovações foram cruciais para a startup social manter um trabalho assertivo. Em 2016, o grupo passou a utilizar a saúde digital como ferramenta para detectar com antecedência os casos de câncer de pele e de colo de útero.
Enfermeiras que atuavam na rede do SUS nas cidades dos sertões do Brasil recebiam treinamento para tirar fotos das lesões que elas julgavam suspeita de câncer de pele. As imagens eram enviadas para dermatologistas voluntários do projeto.
Com o sistema, mesmo a distância, os médicos podiam detectar quais casos eram suspeitos com antecedência e assim, quando estivessem no local, operar de uma forma mais resolutiva.
Teleconsultas
Durante a pandemia da covid, em 2020, o projeto expandiu regionalmente e passou a atuar em 350 cidades, em diferentes estados brasileiros. Com a necessidade das pessoas em se manter dentro de casa, em contraste com o crescimento disparado das demandas de saúde, o conhecimento sobre saúde digital levou a iniciativa a oferecer consultas virtuais para pacientes sem acesso.
A ação “Médico do Zap” atendeu vilas de pescadores, mulheres em comunidades quilombolas, além de favelas do Rio de Janeiro e São Paulo. No período, o projeto contou com 500 voluntários, que realizavam um trabalho de triagem e acolhimento digital para preparar o paciente para realizar uma videochamada com um médico.
A falta de acesso à internet em regiões carentes do país era um impedimento para que o projeto pudesse alcançar um público maior. Como solução, a startup desenvolveu cabines de telemedicina que simulavam as consultas virtuais realizadas em casa. Os espaços eram equipados com câmeras para que o público carente desses recursos pudesse usufruir do sistema também.
Unidades de Telemedicina Avançada
A principal contribuição, segundo a instituição, são as Unidades de Telemedicina Avançada, que são estruturas equipadas para realizar exames de 10 especialidades diferentes. Os aparelhos são manipulados por uma enfermeira contratada da rede do SUS local ou do próprio projeto, que é orientada por um médico à distância que está acompanhado em tempo real as imagens do exame.
As unidades ficam fixas em cidades distantes dos grandes centros de São Paulo e Rio de Janeiro. Todos os exames realizados dentro da unidade são comunicados ao SUS para auxiliar a diminuir as demandas de especialidades.
SAS Smart
Para desenvolver as tecnologias utilizadas no atendimento, a instituição criou uma frente de negócios para auxiliar a sustentação financeira do projeto, chamada de SAS Smart. Atualmente, 10% dos gastos do instituição são pagos pela empresa.
Em 2024, 70% da verba financeira que sustenta as ações da SAS Brasil será proveniente de patrocinadores, que contribuem com o desenvolvimento das tecnologias utilizadas para aprimorar a eficiência dos atendimentos. A instituição também recebe doações de pessoas físicas, que atualmente correspondem a 20% da receita total.