O uso dos celulares de fato afeta o desempenho e a concentração de crianças e adolescentes em escolas? A EPTV conversou com um psiquiatra para entender os efeitos dos aparelhos no cérebro.
Segundo o especialista, o uso exagerado dos celulares e tablets pode, sim, contribuir para uma perda de concentração. O déficit acontece porque o cérebro é moldado de acordo com a passagem do tempo e, ao se deparar com estímulos rápidos provocados pelos aparelhos, ele “desaprende” a se concentrar por um período maior.
O comportamento é chamado de maturação cerebral. Ou seja, o cérebro vai se transformando com o passar dos anos. Portanto, antes dos 25 anos, o órgão ainda não está totalmente desenvolvido e, por isso, a bomba de estímulos que sai das telas podem afetar o desenvolvimento.
“Esses vídeos de Instagram ou TikTok são muito rápidos e não dá tempo dá criança ter uma reação crítica. Eles trazem uma sensação de gratificação, de prazer. Isso é feito de forma muito rápida e intensa, então a criança quer repetir aquilo e ela não consegue ficar mais sem aquela sensação. Ou quando essa sensação é suspensa, a criança até passa mal”, disse Eduardo Teixeira, médico psiquiatra do Hospital PUC-Campinas.
Discussão no congresso
No Congresso Nacional, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou no dia 30 de outubro um projeto que proíbe o uso de aparelhos eletrônicos nas escolas públicas e privadas. O texto agora segue para a comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.
Em setembro, o Ministério da Educação (MEC) anunciou que estava preparando um projeto de lei (PL) com o objetivo de proibir o uso de celulares em escolas públicas e privadas do Brasil. Contudo, a pasta desistiu de apresentar uma proposta própria e optou por “aproveitar” projetos sobre o tema que já tramitavam na Câmara dos Deputados.
O PL 104/2015, por exemplo, prevê a proibição do uso de celular dentro de sala, no recreio e também nos intervalos entre as aulas para todas as etapas da educação básica. Nesse caso, o uso seria permitido apenas para fins estritamente pedagógicos ou didáticos, conforme orientação do professor, e por questões de acessibilidade, inclusão e saúde.
A prática já é instituída em uma escola particular de Campinas (SP). Segundo professores e alunos ouvidos, a medida sofre resistência no início, mas traz resultados positivos como, por exemplo: Melhora na relação entre alunos; Melhora na convivência; Mais concentração; Melhor comportamento em sala de aula.
Não é de agora que a escola decidiu confiscar os celulares no período das aulas. O professor da primeira matéria do dia recolhe os aparelhos com uma caixa e leva para um armário de madeira com cadeado, onde ficam guardados até a hora de ir embora. A regra vale para todas as turmas, até para o ensino médio.
“A proibição do celular em sala de aula vem há muitos anos, mas eles ficavam com o celular desligado na mochila. Em alguns momentos eles tinham o ímpeto de dar uma olhadinha, ver se chegou alguma mensagem. A escola, desde janeiro, optou pela caixinha nas salas de aula”, detalha a gestora educacional Thiara Pedico.
O professor Samuel Matias conta que a medida incomoda alguns estudantes no começo, mas eles se adaptam e há um resultado positivo. “Num primeiro momento a gente percebe que eles sentem falta e uma certa resistência em entregar o telefone. É como se estivessem perdendo um item de bastante valor”.
“Porém, a gente percebe que, depois de um tempo, eles entendem que dá para viver sem o telefone, que aquilo não vai fazer uma falta tão grande quanto eles pensam que faria. A gente percebe que as relações entre eles se intensificam e tomam outro formato”.