Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 12 de setembro de 2024
Depois da onda de incêndios, da fumaça resultante do grande número de queimadas na Amazônia e de países vizinhos e do clima seco, parte do Brasil se prepara ou já enfrenta um novo fenômeno: a “chuva preta”.
O fenômeno vem ocorrendo em várias localidades do Rio Grande do Sul desde o início da semana, com destaque para as cidades de Arroio Grande, São Lourenço do Sul, Pelotas e São José do Norte.
A chuva preta ocorre quando a fuligem das queimadas se mistura às gotas de chuva, resultando em precipitações carregadas de partículas escuras. Segundo o Climatempo, esse fenômeno, comum em áreas afetadas por incêndios, pode ser observado ainda mais nos próximos dias, principalmente no Sul e Sudeste do Brasil, onde a fumaça e as chuvas se encontram com o avanço de uma frente fria.
Ainda segundo a meteorologista Josélia Pegorim, cidades do Norte do Uruguai já começaram a registrar chuva preta nessa quarta-feira, devido à chegada dessa nova frente fria.
O fenômeno vai se deslocar pelo Sul do Brasil em direção ao estado de São Paulo nos próximos dias e, conforme a meteorologista, pode provocar chuva preta na semana que vem.
“No próximo final de semana esses eventos de chuva preta podem voltar a ser observados na grande São Paulo e em outras áreas pelo interior do Estado de São Paulo, e também em áreas do Mato Grosso do Sul”, afirmou Josélia Pegorim, meteorologista da Climatempo.
Eventuais danos
A meteorologista Estael Sias, do MetSul, explica que o fenômeno é uma chuva contaminada, mas não necessariamente tóxica. “Uma vez que está transportando carbono negro, tem, no máximo, o efeito de sujar as superfícies no solo”, afirma Sias.
Segundo Gilberto Collares, professor de Engenharia Hídrica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), eventuais danos oferecidos à saúde pelo fenômeno dependem de medição adequada.
“A chuva preta pode provocar alguns danos, mas se imagina que a fumaça tenha sido produzida pela queima de material orgânico, ou seja, de florestas e pastagens”, diz Collares.
“Se, além desses componentes, houvesse resíduos industriais de potencial tóxico, ocorreria o que se chama de chuva ácida, potencialmente muito mais perigoso.”
O pesquisador considera que, embora toda água da chuva que não seja límpida e cristalina inspire cuidados, na maioria das vezes, pode ser consumida após ser submetida a um processo adequado de filtragem. “Não se imagina que a água para consumo humano nas regiões urbanas, onde existem redes de tratamento, possa ser afetada pelo que está acontecendo”, observa.
Um dos comportamentos a ser evitado é o pânico por causa da chuva preta, dizem especialistas.
“A gente não pode ser tão rígido, porque a população precisa de água. Temos de reduzir o risco de pânico, de maneira responsável”, diz Collares.
“Vivemos muito isso durante a enchente [de maio deste ano]. As pessoas vão passar por essa situação, e temos de tratá-las com acolhimento e carinho.”
Mudanças climáticas
Apesar do aparente baixo potencial de dano, Collares diz que o episódio indica o quanto a população está vulnerável diante das mudanças climáticas. “Em Porto Alegre, autoridades recomendaram que escolas não realizem atividades ao ar livre com alunos pelo menos até domingo. São coisas com as quais a gente vai ter de conviver”, afirma.
O Rio Grande do Sul começou a ser alcançado pela fumaça produzida pela onda de queimadas no Brasil central em meados de agosto. A fuligem, transportada por ventos denominados de “jatos de baixos níveis” ou, popularmente, corredores de vento, atingiu também a Argentina e o Uruguai.
Durante vários dias, a névoa impediu que o sol brilhasse com toda a intensidade, provocando o chamado “sol vermelho”.
Em Porto Alegre e outros municípios gaúchos, a fumaça somou-se a uma massa de ar frio e à umidade para produzir calor incomum no final do inverno, com temperaturas chegando a 36ºC.
O uso de máscaras faciais, raro desde o fim da pandemia do novo coronavírus, voltou a ser observado nas ruas da Capital em razão da fumaça nos últimos dias.
A piora da qualidade do ar no Rio Grande do Sul levou a empresa suíça IQAir a classificar a capital gaúcha como segunda metrópole mais poluída do mundo na terça-feira (10/9), atrás apenas de São Paulo. A classificação baseia-se em imagens de satélite.