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Por Redação O Sul | 18 de fevereiro de 2023
Com a carreira em pausa desde abril do ano passado devido à afasia (distúrbio de linguagem que afeta a capacidade de comunicação), o ator norte-americano Bruce Willis, 67 anos, teve um novo diagnóstico revelado por sua família, na semana passada: demência frontotemporal, que afeta de forma significativa o comportamento e a personalidade mas mantém relativamente preservado o funcionamento cognitivo. Afinal, qual a diferença entre essa forma de demência e as demais?
Em geral, os quadros de demência envolvem um grupo de doenças que acaba comprometendo a habilidade cognitiva do indivíduo, principalmente na terceira idade. Usualmente, 50% dos diagnósticos, em termos de prevalência, estão relacionados com doença de Alzheimer, que tem características marcantes e importantes.
“Clinicamente se refletem como alteração, inicialmente, de memória, atenção, orientação temporal espacial e questões visuoconstrutivas”, explica Fernando Pinto Gomes, neurocirurgião e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Ainda segundo ele, uma porcentagem muito menor é atribuída à demência frontotemporal: “Cerca de 1,7% a 2% dos pacientes são acometidos. É bem mais raro que o Alzheimer e geralmente acomete indivíduos com idade entre 45 e 65 anos. Não há predisposição maior para homens ou mulheres”.
Doença hereditária
Existe uma correlação com a questão hereditária. Ou seja, filhos de pessoas que tiveram demência frontotemporal têm uma maior chance de serem diagnosticados com a doença.
Relação com Alzheimer
Diferentes do que ocorre no Alzheimer, as manifestações comportamentais são as que mais chamam a atenção. O indivíduo geralmente apresenta sinais e sintomas que correspondem ao mau funcionamento dos glóbulos frontais. No caso da demência frontotemporal, a evolução do quadro clínico também é mais rápida que no caso de pacientes com Alzheimer.
Sintomas da doença
Os sintomas estão relacionados à mudança – muitas vezes drástica – de comportamento e da personalidade do paciente, assim como podem refletir em problemas com a linguagem.
A pessoa pode, por exemplo, apresentar certo grau de desinibição, compulsão alimentar por doces, inadequação social, problemas ligados com relacionamento e falta de senso crítico.
Processo de diagnóstico
Após a avaliação médica com informações sobre o estado de saúde do paciente, o médico poderá solicitar uma tomografia computadorizada ou ressonância magnética para ajudar no diagnóstico da doença.
“Além disso, quando a gente faz teste de perfusão, é possível verificar se há uma hipoperfusão, ou seja, uma falta de chegada do sangue a estas regiões, com consequente interpretação da perda dos neurônios nestas regiões”, afirma Gomes.
Incurável e inevitável
Neurodegenerativa e incurável, a doença geralmente tem tratamento multidisciplinar, com reabilitação neuropsicológica e apoio de fonoaudiologia. Medicamentos usados para Alzheimer e mal-de-Parkinson não servem contra demência frontotemporal. Já os remédios que têm a ver com a serotonina podem ajudar no funcionamento dos glóbulos frontais, muitas vezes tratando também sintomas relacionados a depressão, desmotivação e compulsão.
Como há questão genética envolvida, se a doença tiver que se manifestar, nada irá impedir que isso aconteça. Mas um estilo de vida mais saudável pode resultar em impacto mais brando. Alimentação, exercício e contato social estão entre os fatores apontados como saudáveis pelos pesquisadores. Estudo chinês foi realizado ao longo de uma década.
Tipos mais comuns
– Variante comportamental: chama mais atenção pelas alterações de comportamento. A pessoa fica desinibida e não consegue se controlar. Afeta a personalidade do paciente.
– Demência semântica: a pessoa não consegue mais compreender as coisas que já compreendia anteriormente, embora possa ter preservadas a atenção e a memória. Tem dificuldade para dar nome aos objetos e entender discursos.
– Afasia progressiva não fluente: caracteriza-se principalmente pela alteração lenta e progressiva da habilidade de falar.
Cuidados familiares
Dependendo da característica comportamental do paciente, os familiares podem auxiliar. Se a pessoa apresenta comportamento agressivo, não está medicada e não existe orientação, há risco de situações desagradáveis.
Deixar objetos cortantes perto do paciente é algo a ser evitado, assim como protetores em escadas e janelas. Por isso, é importante ter o tratamento multidisciplinar. Pessoas com comportamento agressivo, quando é o caso, são medicadas.
Quando o paciente consegue ter noção do que está acontecendo, pode desenvolver outros transtornos, como depressão. “Você tem a noção de que nunca mais será como antes”, detalha o neurocirurgião da USP.