Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 6 de março de 2019
“O que é golden shower?”, perguntou Jair Bolsonaro no Twitter na manhã desta quarta-feira (06). Seguiu-se à dúvida do presidente uma série de respostas – a maioria irônicas – no próprio Twitter, que já passavam de 40 mil horas depois da postagem com a questão.
“Golden shower” (ou chuva dourada, em português), explica a ginecologista e sexóloga Nathalie Raibolt, é a prática de sentir prazer ao urinar no parceiro ou receber dele jatos de urina durante o ato sexual ou em um contexto sexual. A pergunta do presidente se referia a um vídeo postado por ele mesmo na noite anterior, em que se assiste a uma cena de golden shower entre dois homens em meio a um bloco de carnaval.
Bolsonaro postou o vídeo – visto por cerca de 4 milhões de pessoas – e escreveu que não se sentia “confortável” ao fazê-lo. Completou: “Mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro”.
Nathalie Raibolt afirmou que, “se existe prazer e consentimento, e se for desconsiderado o fato de ter ocorrido em público, não existe certo ou errado” no golden shower. “Na cena [do vídeo], me parece que a pessoa demonstra sentir prazer e, também, me parece que há consentimento. A interpretação moralista disso vem de um conjunto de regras pré-definidas do que pode e não pode ser praticado”, disse ela.
Do ponto de vista médico, continua a ginecologista, o “golden shower” oferece menos riscos de doenças sexualmente transmissíveis do que o sexo com penetração. “A urina em contato com a pele tem baixo risco de transmissão de doenças. No caso do HIV, por exemplo, o contágio se dá sobretudo pelo sexo com penetração”, destacou Raibolt.
Já em termos legais, o ato registrado no vídeo postado pelo presidente pode ser enquadrado no artigo 233 do Código Penal, que trata de atos obscenos, segundo avaliação do advogado criminalista Rafael Faria. O artigo determina que pode ser punido com multa e até prisão de três meses a um ano quem “praticar ato obsceno em lugar público, aberto ou exposto ao público”.
Ainda segundo Faria, o “golden shower”, como visto no vídeo, não se enquadra no crime de atentado violento ao pudor, que desde 2009 deixou de existir para se tornar um só com o crime de estupro. O advogado argumenta que, dependendo da interpretação, urinar na rua também pode ser entendido como ato obsceno, mas ele diferencia as duas práticas.
“Uma coisa é alguém urinar em uma árvore porque a prefeitura não tem condições de disponibilizar banheiros para 1 milhão de pessoas em blocos de rua no Centro do Rio. Outra, muito diferente, é alguém tirar a roupa e se exibir para as pessoas, como no vídeo postado pelo presidente”.
Urofilia
Também chamada urofilia, a chuva dourada tem registros antigos na literatura – o mais célebre consta do livro “Os 120 dias de Sodoma”, de Marquês de Sade, do século 18.
Como explica a sexóloga Raibolt, ela está no escopo das práticas BDSM, acrônimo que se refere a bondage, disciplina, dominação e submissão, sadismo e masoquismo, “um conjunto diversificado de práticas eróticas que eventualmente aparecem associadas ao fetichismo e à podolatria, por exemplo”.
Já a psicoterapeuta sexual Ana Cláudia Simão lembra que, na literatura psiquiátrica, há autores que consideram a prática uma patologia, quando inclui sofrimento e violência; outros a classificam como fetiche.