Logo após a tentativa de assassinato da vice-presidente argentina, Cristina Kirchner, as autoridades identificaram o agressor como Fernando Andrés Sabag Montiel, um brasileiro de 35 anos que já havia sido detido por portar uma faca. Nas fotos do agressor que circulam na internet, um detalhe se destaca: a tatuagem de um Sol negro na altura do cotovelo, que remete a um ramo oculto do Partido Nacional-Socialista, liderado por Adolf Hitler entre 1933 e 1945, responsável pela extermínio de seis milhões de judeus e outros grupos étnicos que consideravam “racialmente inferiores”.
O Sol negro é uma combinação dos três símbolos mais relevantes da ideologia nazista: a roda solar, a suástica e a runa da vitória — uma letra do alfabeto usado pelas antigas tribos germânicas.
Na sua versão mais popular, é representado por dois círculos concêntricos, com linhas tortas que vão da circunferência interna até a externa. Apesar de ser encontrado em diversas culturas, ele é de origem nórdica e foi apropriado pelo nazismo para forçar uma relação histórica com os “vikings”.
O símbolo chegou ao nazismo graças a Heinrich Himmler, o principal chefe das SS, a organização paramilitar e de segurança a serviço de Hitler. Himmler, fascinado pelo ocultismo, buscava ligações místicas que justificassem a filosofia racista de seu governo.
Entre os seguidores de Himmler, pensava-se que o Sol Negro representava a sabedoria e a força da raça ariana. Na década de 1990, o símbolo tornou-se importante novamente entre os partidários da extrema direita.
Ao contrário da suástica, que foi proibida em diversos lugares do mundo após a Segunda Guerra Mundial, muitos outros símbolos do nazismo alemão continuam sendo amplamente utilizados por grupos de extrema direita.
As redes sociais do brasileiro, já deletadas, indicam alguns de seus hobbies peculiares. Em seu perfil no Facebook, por exemplo, ele curtiu páginas como “Comunismo Satânico”, “Ciências Ocultas Herméticas” e “Coach Antipsicopata”, além de inúmeros grupos de ódio ligados à ideologia neonazista.
O brasileiro também gostava de ser chamado de “Salim” e se gabava de ser crítico ferrenho do atual governo argentino e da família Kirchner. Ele também postou vídeos de suas aparições em programas de TV, seja criticando programas do governo de auxílio financeiro ou a nomeação do ministro Sergio Massa, da Economia.
Segundo o jornal La Nación, em 17 de março do ano passado Montiel foi detido por porte de arma. Na ocasião, ele foi flagrado com uma faca e alegou que a usava para defesa pessoal. Montiel foi abordado na época por estar estacionado com um veículo sem a placa traseira. Ele alegou que a placa caiu “devido a um acidente de trânsito ocorrido dias atrás”. Quando ele se abriu a porta para pegar a documentação do carro, uma faca de 35 centímetros de comprimento caiu no chão.
O documento de residência do brasileiro na Argentina é dos anos 1990. O pai dele, Fernando Ernesto Montiel Araya, foi alvo de um inquérito da Polícia Federal para expulsão do Brasil em 2020 e, segundo o governo argentino, estaria hoje em Valparaíso, no Chile. O procedimento foi instaurado porque Araya tinha uma sentença penal condenatória no país. A mãe, Viviana Beatriz Sabag, era argentina e morreu em 2017.