A rede social com mais usuários no mundo, o Facebook tem sido criticado em diversos países pela proliferação de fake news e perfis falsos em sua plataforma. Nos Estados Unidos, por exemplo, a gigante da tecnologia responde nas investigações sobre uma possível intervenção da Rússia nas eleições presidenciais por meio da da internet. No Brasil, a discussão gira principalmente em torno do alcance das notícias falsas compartilhadas na rede durante o período eleitoral, o que levou a empresa a tomar uma série de medidas preventivas.
Entre elas está a derrubada de 196 páginas e 87 contas com base no código de autenticidade da rede, por que “escondiam das pessoas a natureza e origem de seu conteúdo” e tinham o propósito de gerar “divisão e espalhar desinformação”. Entre as páginas, estão a Jornalivre, O Diário Nacional e Brasil 200, esta última de um movimento idealizado pelo empresário e político Flavio Rocha.
Parte dessas páginas e perfis é do MBL (Movimento Brasil Livre), que divulgou uma nota em que considerou a ação “censura” e argumentou que parte dos perfis derrubados eram legítimos. Mas quais são os critérios do Facebook para retirada do ar desses conteúdos:
1) O Facebook proíbe o compartilhamento de notícias falsas entre seus usuários?
Não exatamente. A rede instituiu uma série de ações para coibir e limitar o compartilhamento desse conteúdo, mas não impede que ele circule. Como explica Pablo Ortellado, professor e pesquisador do Monitor do Debate Público no Meio Digital da USP: “A política do Facebook não derruba página por fazer notícias falsas, até porque uma empresa privada não deve ficar arbitrando no que é ou não verdadeiro. Ela tem, porém, tomado algumas ações”, disse o pesquisador.
Essas ações são a parceria com agência de checagem, como as agências Lupa e Aos Fatos, que avaliam a veracidade de uma notícia. Se ela for comprovadamente falsa, a rede reduz o alcance que seus compartilhamentos terão. A segunda atitude é a de derrubar páginas que são operadas por perfis falsos. Ou seja, as que ferem as “diretrizes de autenticidade” da rede.
2) Quais são as “diretrizes de autenticidade” do Facebook?
De acordo com o site da própria rede, os usuários não devem se envolver em “comportamento não autêntico”. Ações desse tipo incluem “criar, gerenciar ou perpetuar contas falsas, contas com nomes falsos”.
Também estão inclusas páginas que trabalhem em conjunto para “enganar as pessoas sobre origem do conteúdo” compartilhado ou que enganam o usuário sobre o destino dos links que divulgam. Outras ações que quebram as diretrizes da rede são as de “enganar as pessoas na tentativa de incentivar compartilhamentos, curtidas ou cliques” ou “ocultar ou permitir a violação de outras políticas de acordo com os Padrões da Comunidade” do Facebook.
3) O que levaria um “perfil real” a ser banido?
Em sua nota, o MBL argumenta que parte dos perfis derrubados na ação da rede social eram de pessoas reais, com nomes verdadeiros, endereços e telefones, o que não estaria previsto nas diretrizes.
Na verdade, mesmo perfis “reais” podem ser derrubados pela rede, contanto que participem de “comportamento não autênticos coordenados, ou seja, em que múltiplas contas trabalham em conjunto” com a finalidadede ferir as regras expostas anteriormente.
Por exemplo, se uma página ou perfil compartilha consistentemente e em grande volume material falso, ele pode ser identificado como spam ou parte de uma rede de desinformação. Nesse caso, mesmo que se trate de uma conta “real”, ela poderá ser punida.
4) De que maneira a rede identifica essas páginas operadas por perfis falsos?
A medida tomada pelo Facebook é uma de suas maiores no Brasil até o momento. Com o argumento de coibir a “desinformação”, a rede retirou quase trezentas páginas e perfis de circulação, alguns com alcance de até meio milhão de curtidas.
“Uma ação desse tamanho não existia antes e é surpreendente. Não se sabia dessa movimentação. Nós só tínhamos conhecimento de cerca de 20 delas. Ao que tudo indica, se tratou de uma ação coordenada do Facebook para cortar essas páginas, que muito provavelmente estavam sendo criadas para as eleições”, explica Ortellado.