Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 12 de abril de 2023
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou na China com uma ampla agenda de negócios a cumprir, sem deixar de lado seus interesses geopolíticos. Após o adiamento da viagem no final do mês passado por um quadro de pneumonia leve, o mandatário brasileiro desembarcou no grande centro financeiro do país, Xangai, com uma comitiva mais enxuta que a prevista inicialmente, mas com enorme prestígio do governo e destaque na mídia estatal.
Além dos 20 acordos comerciais que devem ser assinados no encontro, a viagem deve também impactar a forma como o Brasil é visto internacionalmente — seja como protagonista da agenda climática ou potencial mediador do conflito entre Rússia e Ucrânia.
Lula afirmou que conversará com o presidente chinês Xi Jinping sobre a sua ideia de formar um grupo de países para mediar as negociações de paz na guerra na Ucrânia — o que, caso conquiste a atenção chinesa, poderia ajudar no andamento do plano e colaborar na retomada da influência brasileira no cenário internacional.
Uma das agendas prioritárias do governo é colocar o Brasil como protagonista global na pauta climática e, durante a viagem, a China poderá ser uma importante aliada no processo. Entre os acordos previstos estão a assinatura de uma declaração conjunta sobre o clima e a construção da sexta linha de satélites sino-brasileiros, o CBERS-6, capaz de monitorar áreas de desmatamento mesmo em dias nublados.
Na economia, o Brasil pode ganhar com a retomada das conversas sobre uma parceria do Banco de Desenvolvimento da China com o BNDES, que nunca saiu do papel, que destravaria um fundo de R$ 20 bilhões para investimentos;
A viagem pode também gerar impactos no fluxo de exportação. Um dos objetivos de Lula é inserir outros produtos nacionais, como sorgo, gergelim e noz pecã, no mercado chinês. Em março, o governo já havia articulado a revogação de um embargo às exportações de carne bovina brasileira e a habilitação de quatro novos frigoríficos.
Guerra
Nesta sexta-feira (14), o chefe de Estado brasileiro viajará para Pequim para um encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, que visitou Moscou em março. Lula já mencionou em outras ocasiões que pretende tratar na conversa com o mandatário chinês sobre possíveis caminhos para a paz entre Rússia e Ucrânia, chegando a dizer que era hora de Xi “pôr a mão na massa” para resolver a disputa geopolítica.
Após o comentário de Lula, Xi anunciou um plano de paz de 12 pontos para o conflito russo-ucraniano, lançado no 1º aniversário da guerra, em 24 de fevereiro. A iniciativa pede um cessar-fogo, defende a integridade territorial — sem esclarecer como isso se aplicaria aos territórios ucranianos anexados por Moscou — e oferece benefícios à Rússia com a suspensão das sanções.
Desde janeiro, quando o premier alemão Olaf Scholz visitou o Brasil, Lula defende a criação de um grupo de mediação formado por países dispostos a negociar um cessar-fogo, sem detalhar como funcionaria na prática. No início do mês, o presidente afirmou que foi um erro estratégico por parte dos países desenvolvidos não gastarem “muito tempo” nas negociações de paz logo no início da guerra, criticando a “entrada” imediata da União Europeia e dos Estados Unidos no conflito.
Protagonismo ambiental
Uma das principais agendas da viagem para o presidente — e essencial ao seu objetivo de recuperar a influência do país internacionalmente pós-Bolsonaro — é a pauta ambiental. O governo brasileiro busca a assinatura de uma declaração conjunta sobre o clima com Pequim que poderia servir de base para um acordo bilateral de cooperação e ter impactos nas articulações em fóruns internacionais. O documento também pode orientar a criação de um fundo de financiamento binacional de combate às mudanças climáticas e de iniciativas de reindustrialização sustentáveis.
Um dos acordos previstos é a construção da sexta linha de satélites sino-brasileiros, o CBERS-6, segundo o Planalto. A parceria entre os países começou na década de 1980 e a tecnologia foi evoluindo com o passar dos anos. O novo modelo tem como diferencial a capacidade de monitorar áreas de desmatamento em biomas como a Floresta Amazônica mesmo em dias nublados, representando um avanço em relação às linhas que operam atualmente na região.
A viagem ainda pode ter grandes impactos na atração de investimentos e no impulso às exportações para o enorme mercado da China, que tem 1,4 bilhão de habitantes. Para isso, o governo busca, entre outras coisas, retomar um acordo de 2015 do Banco de Desenvolvimento da China com o BNDES, que nunca saiu do papel. A parceria destravaria um fundo de R$ 20 bilhões para investimentos em reconversão produtiva.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, voltou à China a pedido de Lula após ter participado da comitiva que viajou ao país na primeira data mesmo após o adiamento do presidente. Um dos objetivos do governo brasileiro é inserir no mercado chinês outros produtos nacionais, como sorgo, gergelim e noz pecã. O último é o que tem mais chance de ser aprovado durante a visita, já que os procedimentos estão completos.