Quinta-feira, 10 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 11 de dezembro de 2021
Entrou em vigor neste sábado (11) uma nova exigência por parte das autoridades dos Estados Unidos: brasileiros que pretendem viajar ao México precisam de visto. A medida resulta de pressões da Casa Branca para tentar reduzir a entrada de brasileiros sem documentos e em busca de uma vida melhor em território norte-americano.
Esse preocupação com a imigração de brasileiros é relativamente nova e acompanha uma expansão: se até 2018 eles não chegavam a 1% dos detidos na fronteira entre México e Estados Unidos, no ano seguinte já representavam 2,1%, com 17,9 mil cidadãos.
Em 2020, ano do auge da pandemia, as apreensões caíram para 6,9 mil (1,7% do total). E neste ano bateram o recorde da série histórica com 56,9 mil brasileiros detidos (3,3% do total).
O fenômeno ocorrido neste ano tem explicações locais, como a crise econômica que força as pessoas a buscarem alternativas e a rede de brasileiros cada vez mais estruturada nos Estados Unidos que facilita a atração de novos migrantes. Mas não se trata de algo somente brasileiro.
Neste ano, os norte-americanos aprenderam 1,7 milhões de migrantes “sem papeis” na sua Fronteira Sul, maior número da série histórica e o dobro do recorde anterior. Isso tem a ver com a crise social decorrente da pandemia em diversos países, e à expectativa de que o governo de Joe Biden teria políticas mais favoráveis aos migrantes, o que não se confirmou.
A maior preocupação para as autoridades de Washington continua sendo os migrantes de países da América Central: somente em 2021, foram apreendidos na fronteira entre México e Estados Unidos 319 mil hondurenhos e 283 mil guatemaltecos, por exemplo. Juntos, esses dois grupos já se aproximam do número de mexicanos capturados no período por tentarem cruzar a linha: 655 mil.
Um dos aspectos que provocam a migração para outros países é a situação econômica na origem. E, nessa área, o Brasil tem apresentado resultados desanimadores. O atual PIB (Produto Interno Bruto) per capita do país é o mesmo do que o de 12 anos atrás, ou seja, mais de uma década de estagnação. A inflação deve atingir 10% neste ano, que corrói o poder de compra, e o desemprego também está alto.
Ajuda de quem já cruzou a linha
A decisão de se mudar para outro país, porém, não se baseia somente na situação econômica. Pesam também os contatos pessoais que cada um possui e o desejo de tentar fazer a vida em outro lugar.
O demógrafo Dimitri Fazito, professor de sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais e especialista em migrações, destaca que a rede de brasileiros hoje morando nos Estados Unidos que estimula e apoia a chegada de mais conterrâneos é muito maior do que nas décadas passadas. Essa rede incluiu familiares e parentes que já emigraram e podem ajudar financeiramente e o acesso a documentos falsos e ofertas de emprego.
E se a crise econômica e as redes pessoais estimulam a migração, por outro lado a política externa do governo Jair Bolsonaro não ajuda os brasileiros indocumentados a receberem um melhor tratamento das autoridades americanas.
No atual governo brasileiro, a política de reciprocidade deixou de ser aplicada e o Ministério das Relações Exteriores passou a se mostrar favorável à deportação e repatriação de seus cidadãos. O brasileiro é preso nos Estados Unidos e as autoridades americanas querem deportá-lo, mas precisa de um documento, então o Itamaraty tem colaborado com o governo americano nesse sentido.
O aumento das apreensões de brasileiros também levou o governo americano a contratar voos fretados de repatriação. A política começou a ser implementada no governo Donald Trump (2017-2020), com um voo semanal. A gestão Biden tentou elevar para três voos semanais, e o governo brasileiro aceitou receber dois por semana. Os brasileiros vêm algemados.