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Notícias Entenda por que as eleições em outros países geram tanto debate no Brasil; especialistas apontam globalização e polarização

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Trump quer impor tarifas de 10% a 20% sobre importações do mundo inteiro e 60% sobre as da China. (Foto: Reprodução)

Nas últimas semanas, eleições em outros países do mundo causaram impacto nas discussões políticas dentro do Brasil, tanto entre autoridades quanto entre eleitores.

Um exemplo foi a renúncia do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que seria candidato à reeleição. Ele oficializou essa posição em um domingo, 21 de julho. Em seguida, ministros do governo brasileiro e até o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram às redes sociais comentar o caso.

Autoridades e eleitores brasileiros também se envolveram com as eleições legislativas na França, na qual a extrema-direita ficou em terceiro lugar, depois de ter liderado no primeiro turno. E até hoje repercute no país e no governo a reeleição, acusada de fraudulenta, do presidente Nicolás Maduro, na Venezuela.

Para especialistas, as eleições mundo afora estão, de fato, mais globalizadas. Não só o país envolvido repercute o pleito, mas, de certa forma, grande parte da comunidade internacional. E isso se deve a alguns fatores, como:

• rapidez das informações (avanço da internet e redes sociais)
• acirramento de ideologias
• globalização da economia e dos temas políticos e morais (valores)

“Não é mais possível separar temas externos e domésticos, todos estão imbricados, dado o impacto que uma decisão doméstica tem sobre os interesses externos, e vice-versa”, afirmou Janina Onuki, professora do Departamento de Ciência Política da USP.

Política globalizada

O cientista político Leonardo Paz Neves, da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta que a globalização da política e das próprias eleições nacionais é uma tendência em crescimento, porque o mundo está muito conectado, empresas têm negócios em vários países e as populações têm acesso instantâneo ao que acontece em outros lugares.

“É uma tendência de crescimento e não vai deixar de crescer. A aproximação dos países, a aproximação das pessoas, a maneira como o que acontece em um país começa a impactar nos outros, enfim, cada vez mais a interligação dos centros financeiros, a quantidade de multinacionais, a quantidade de pessoas que lidam com outras, trabalham o tempo todo”, disse Paz Neves.

Ele explica, por exemplo, que o resultado na eleição legislativa na França interessa ao Brasil não só do ponto de vista ideológico, mas também econômico. A depender da corrente política vencedora, o acordo do Mercosul com a União Europeia pode ficar mais próximo ou mais distante.

“Isso naturalmente faz com que a política de um país impacte nos outros, quer dizer, dependendo do que sair da França, vai ter ou não vai ter acordo com a União Europeia, então tem umas coisas dessas que já geravam isso, já impactavam normalmente, só que a gente começa a perceber esse impacto mais forte”, afirmou.

Polarização

Um outro pilar apontado por especialistas é a polarização na sociedade, em que atores políticos e eleitores tendem a se alinhar a posições cada vez mais rígidas.

“Tudo que ocorre nos outros países também tem ligação com direita, esquerda, está dentro dos espectros ideológicos. Então, as pessoas transplantam isso. Um exemplo mais recente são as eleições nos Estados Unidos. A gente tem uma candidata do Partido Democrata [Kamala Harris]. E um candidato dos republicanos [Donald Trump]. Mais ou menos eles representam o que seria uma esquerda e uma direita, embora os atuais democratas estejam muito distantes de uma esquerda e lá eles se chamam de liberais”, disse Flávia Loss de Araújo, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fepesp).

A professora Onuki, da USP, argumenta que a ascensão de líderes de perfil populista nos últimos anos favorece esse cenário de “contaminação” da política de um país pelas eleições em outro.

“Com a globalização, e a disseminação imediata de informações, as eleições, como vários outros acontecimentos políticos, repercutem imediatamente em todo o mundo. Nos últimos anos, a ascensão de líderes populistas, a polarização ideológica, e o receio de retorno de regimes autoritários, têm chamado atenção de vários atores”, afirmou.

Segundo ela, a depender de um vencedor das eleições, toda uma região pode ser afetada geopoliticamente.

“Isso se percebe não somente pelo interesse em todas as eleições, mas também pelo fato de haver uma contaminação regional. A depender do candidato que ganhe, toda uma região pode sofrer com a instabilidade política”, disse.

 

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