Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 24 de outubro de 2022
Não foi o som de canhões, mas o silêncio das pessoas isoladas em casa, no meio da pandemia, que despertou em grandes investidores a atenção para uma oportunidade de ter mais lucros e mesmo redefinir o jogo dos negócios em esportes e, em um contexto mais amplo, do entretenimento, se o mundo, enfim, não acabasse.
Isso porque eles observaram que a audiência de TV, em especial, do futebol, ganhou ainda mais tração, evidenciando a importância fundamental desse “produto” para reter a atenção dos consumidores e colocá-los em contato com as marcas de consumo.
Assim, ao som dos violinos que voltaram a tocar já em meados do ano passado, com a vacinação em massa e a queda das mortes pela covid-19, a Premier League inglesa, a mais valiosa liga de futebol hoje, assinou um contrato recorde superior a 10 bilhões de libras (perto de R$ 60 bilhões) pelos direitos de transmissão de TV por três anos, a partir da temporada 2022/2023. Chama a atenção que, ao entrar em sua quarta década, a liga inglesa fechou, pela primeira vez, valores para transmissão no exterior maiores do que no próprio país.
Foi nesse contexto que mais e mais investidores individuais e fundos de investimento americanos, principalmente, aumentaram suas apostas na aquisição de clubes de futebol como parte de suas estratégias de ampliação do volume de negócios em um mercado – diferentemente do que alguns analistas menos otimistas têm professado – cada vez mais globalizado. Esse foi um dos principais tópicos de debate entre os participantes do World Football Summit (WFS), maior encontro global para negócios do futebol, realizado no fim de setembro, em Sevilha, na Espanha.
De acordo com o relatório da Deloitte “Revisão Anual das Finanças do Futebol 2022”, está acontecendo um boom de investimentos nas cinco principais ligas europeias. Em 2021, foram 15 investimentos em clubes dessas ligas, ante 12 na soma de 2020 e 2019. Desses investimentos, 87% foram realizados por bilionários ou firmas de private equity, sendo dois terços do total com capital oriundo dos EUA.
O negócio com o maior valor já pago por um clube de futebol foi realizado neste ano, quando o bilionário americano Todd Boehly comprou o Chelsea, da Inglaterra, por 4,25 bilhões de libras. Além disso, o fundo de investimento Redbird, dos EUA, comprou o Milan, da Itália, por € 1,2 bilhão.
Os negócios envolvendo compra e venda de clubes não param de ser anunciados. O Bournemouth, que acaba de subir para a Premier League, teria acordo para ser adquirido pelo bilionário texano Bill Foley. Dono do Vegas Golden Knights, franquia de hóquei no gelo da NHL, ele estaria disposto a pagar 120 milhões de libras pelo negócio. Já o Everton estaria na mira de um sobrinho de George Soros, Jeffrey Soros, produtor de cinema em Hollywood que captou US$ 253 milhões em uma SPAC (sociedade de propósito específico, na sigla em inglês), e conta com a consultoria de Keith Harris, ex-diretor do clube.
Mesmo em ligas secundárias, como a de Portugal, a tônica é a mesma. O grupo Qatar Sports Investments, que detém o Paris Saint-Germain, acaba de assinar um acordo para aquisição de 21,67% do capital social do Braga, de Portugal. “Todo mundo também está falando do Brasil”, afirmou no WFS o consultor americano Jordan Gardner, que foi coproprietário do FC Helsingor, na Dinamarca.
Ele aponta o alto preço para se começar a investir em esportes na América do Norte – “as últimas franquias estão sendo avaliadas entre US$ 400 e US$ 500 milhões” – e a alta do dólar diante de outras moedas como a libra e o euro como uma das explicações para o interesse dos americanos. Diante desses fatores e da tendência atual de os investidores formarem grupos com diversos clubes – os multiclubes – e, assim, acessarem, por estratégias diversas, diferentes mercados, os clubes brasileiros e mesmo a formação de uma liga de clubes que retire das mãos da CBF a organização do campeonato nacional entraram de vez no radar dos investidores.