Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid conseguiu manter de pé sua delação premiada, na última quinta-feira, quando prestou esclarecimentos ao ministro Alexandre de Moraes no STF (Supremo Tribunal Federal). As razões para retirar os benefícios do delator, no entanto, eram bem concretas, na avaliação de investigadores.
Descoberto o plano de assassinato armado por militares bolsonaristas contra Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, a batata de Mauro Cid assou por mentir no acordo: “Ele dizia que o monitoramento de Moraes era de rotina, feito em fontes públicas — e não era nada disso”, diz um investigador.
Outra coisa que deixou Cid encrencado no acordo foi a postura de só relatar aos investigadores fatos sobre os quais era perguntado. “Ele sabia bem mais e escolheu omitir. Hoje está claro”, diz o mesmo investigador.
Possível golpe
Em seu depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, Mauro Cid reafirmou que o ex-presidente estava ciente da existência de uma minuta que tratava de um possível golpe e que ele próprio sugeriu alterações no texto.
Durante a audiência, realizada na última quinta-feira (21), o ministro questionou Cid sobre o nível de envolvimento de Bolsonaro com os detalhes do documento, e o ex-assessor confirmou que o então presidente tinha pleno conhecimento do conteúdo.
A colaboração de Cid foi decisiva para que Moraes mantivesse a validade do acordo de colaboração premiada firmado entre ele e a Polícia Federal (PF).
“Após mais de três horas de depoimento, o ministro Alexandre de Moraes validou a colaboração premiada de Mauro Cid, considerando que ele esclareceu pontos que haviam sido apontados como omissões ou contradições pela Polícia Federal. As informações fornecidas por Cid continuam sob investigação das autoridades competentes”, afirmou o gabinete de Moraes.
Depois de ser indiciado, Bolsonaro se manifestou publicamente e fez duras críticas a Moraes em entrevista ao portal Metrópoles. Em conversa com o jornal O Globo semanas antes, Bolsonaro admitiu que o tema do estado de sítio havia sido discutido em seu governo, mas insistiu que “debater a Constituição não é crime”.
Ao longo das investigações, a PF apurou que, sob a liderança de Bolsonaro, oficiais das Forças Armadas, ministros e assessores do governo participaram de reuniões onde a ideia de um golpe de Estado foi debatida. A corporação concluiu que o golpe não foi levado adiante porque não obteve o apoio dos comandantes do Exército e da Aeronáutica na época.
Os depoimentos dos generais Marco Antônio Freire Gomes e Carlos de Almeida Baptista Júnior, chefes do Exército e da Aeronáutica, respectivamente, reforçaram essa linha de investigação. Eles relataram que Bolsonaro apresentou um documento que sugeria a adoção de medidas como o estado de defesa, estado de sítio e a criação de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
“Em outro encontro no Palácio da Alvorada, em data não especificada, o presidente Jair Bolsonaro apresentou uma versão do documento que propunha o estado de defesa e a criação de uma comissão para avaliar a legalidade e conformidade do processo eleitoral”, disse Freire Gomes à Polícia Federal.
A investigação apontou que esse encontro aconteceu no Palácio da Alvorada no dia 7 de dezembro de 2022, após a derrota de Bolsonaro nas eleições para Luiz Inácio Lula da Silva. As informações são da revista Veja e do jornal O Globo.