Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 18 de julho de 2020
Entidades do setor produtivo estão se mobilizando para responder ao estudo publicado na revista científica Science, segundo o qual cerca de 20% da soja e pelo menos 17% da carne produzidas na Amazônia e no Cerrado, e exportadas para a União Europeia, estariam “potencialmente contaminadas”
Entidades do setor produtivo estão se mobilizando para responder ao estudo publicado na revista científica Science, segundo o qual cerca de 20% da soja e pelo menos 17% da carne produzidas na Amazônia e no Cerrado, e exportadas para a União Europeia, estariam “potencialmente contaminadas” com o desmatamento ilegal. Ontem, associações que representam o setor de soja criticaram o estudo por levar a uma “visão distorcida” da produção.
O texto da Science foi produzido por pesquisadores de Brasil, EUA e Alemanha, liderados por Raoni Rojão, da UFMG. Eles cruzaram dados de satélite com informações do Cadastro Ambiental Rural (CAR) – e no caso da carne informam que a base de dados foi restrita aos Estados de Pará e Mato Grosso.
A Confederação da Agricultura de Pecuária do Brasil (CNA) informou, por meio de assessoria de imprensa, que está avaliando a questão e um possível posicionamento. A Frente Parlamentar da Agropecuária disse, também via assessoria de imprensa, que ainda está analisando a metodologia adotada pela revista, principalmente no que diz respeito à confirmação sobre se as áreas destacadas realmente correspondem a desmatamentos e queimadas ilegais.
Em nota, o Ministério da Agricultura afirmou que a agropecuária não pode ser “vilanizada” e os dados da amostra do estudo indicam que mais de 90% dos produtores rurais não estiveram envolvidos com qualquer tipo de desmatamento ilegal. O Ministério afirmou que vai convocar um grupo de cientistas para avaliar detalhadamente cada conclusão do artigo. Segundo a assessoria de imprensa da pasta, a ministra Tereza Cristina não vai comentar.
A Abiove apontou, também em nota, que o estudo da Science cria um valor elevado de soja associado a desmatamento “de forma equivocada”, uma vez que “não indica quanto das áreas identificadas com desmatamento ilegal já está efetivamente embargado pelas autoridades competentes”. Além disso, “não demonstra as áreas de desmatamento legal e ilegal em que há produção de soja, optando por demonstrar o imóvel como um todo”.
Para o diretor-geral da Anec, Sergio Mendes, não é possível atribuir à soja mais do que 1,5% do desmatamento de área na Amazônia com base em levantamentos por satélite. “Se há algum setor que tem se reunido desde 2006 com as ONGs para resolver esse problema e punir as pessoas que desmatam, esse setor é o da soja”, disse Mendes.
A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) informou, em comunicado, que “não concorda com os dados divulgados pelo estudo, pois ele apresenta inconsistências”. Consultada, a Embrapa Territorial, que tem análises sobre a ocupação e uso das terras no Brasil, informou que não vai comentar o estudo.
Quanto ao segmento de carnes, a indústria também não se pronunciou. Em webinar nesta semana, antes da divulgação do estudo, a diretora executiva da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Liège Nogueira, afirmou que a agroindústria exportadora de carne bovina trabalha com sustentabilidade. “Temos demanda do mercado externo e do consumidor daqui e para sermos sustentáveis e rastrearmos a compra dos animais, cuidar do desmatamento ilegal, entre outras exigências”, disse. Liège declarou, entretanto, que, tem de conviver também com os fornecedores ilegais de animais, aqueles não fiscalizados, que produzem o que ela chama de “boi pirata”, além do desmatamento ilegal. “A imagem que vai para fora é aquela de quem cria mal bovinos; a imagem de quem paga impostos ninguém tem interesse em divulgar”, criticou a diretora.