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Por Redação O Sul | 25 de agosto de 2023
A enxaqueca é uma doença neurológica, genética e crônica — não é só uma dor de cabeça. Seus sintomas podem aparecer em diferentes áreas do cérebro, mais sensíveis para quem é portador da complicação. Ela também pode funcionar como um fator de risco para outras enfermidades, como um acidente vascular cerebral (AVC) ou doenças cardiovasculares, por exemplo. Se associada ao tabagismo, esse risco pode ser ainda maior.
O problema é recorrente na população. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a enxaqueca atinge em torno de 15% da população mundial. Só no Brasil, são mais de 30 milhões de pessoas sofrendo com essa doença, que é uma das formas mais comuns de cefaleia (termo médico para a popular dor de cabeça). Cerca de 90% de quem sofre dessa patologia tem algum prejuízo no trabalho, estudos, atividades de lazer e vida sexual.
Sintomas e crise
As crises de enxaqueca costumam aparecer ocasionalmente, com duração de quatro até 72 horas. Em casos extremos, a frequência pode ser diária. A dor de cabeça é somente um dos sintomas causados pela enxaqueca. Outros sinais são dor latejante que ocorre geralmente em um lado da cabeça, de intensidade moderada a forte; dificuldade para realizar tarefas rotineiras; enjoo; náuseas; vômitos; sensibilidade a luz, cheiros e barulho.
Os sintomas da doença também costumam se manifestar em etapas. Uma delas é a aura, que normalmente precede as crises de dor de cabeça, mas ambas podem ocorrer ao mesmo tempo. Na aura, há alterações na vista como embaçamento, pontos ou manchas escuras na visão, linhas em zigue-zague e pontos luminosos que duram de cinco minutos a uma hora. Alguns portadores da enxaqueca, inclusive, têm auras e nunca apresentaram cefaleia.
Formigamento e dormência no corpo, tonturas e enjoos também podem estar associados à enxaqueca. Pessoas que passam mal em viagens de carro, ônibus e barco também devem ficar atentas, já que isso também pode ser um dos sintomas da doença.
Transtornos de humor, como a ansiedade e a depressão, são outros fatores que podem se associar a um episódio da doença. Sobre isso, o neurologista Marcelo Ciciarelli, da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), conta que há maior frequência para quem tem enxaqueca.
“Os transtornos de humor são comorbidades frequentes para portadores da enxaqueca. Ou seja, são situações que ocorrem junto com a enxaqueca em uma proporção acima da média da população geral. Você vai ver a presença disso com maior frequência nos pacientes enxaquecosos. Mas isso não quer dizer uma relação causal nem um efeito da doença, mas sim, uma associação provavelmente de um distúrbio dos mesmos neurotransmissores”, afirma.
Causas
O cérebro é a máquina de comando do organismo e, por isso, ele comanda todas as funções vitais, conscientes e inconscientes. A enxaqueca apresenta uma variedade de sintomas que podem ocorrer devido à disfunção química cerebral da enfermidade.
Essa disfunção pode ocorrer em vários neurotransmissores, como a serotonina, dopamina, noradrenalina e glutamato, que têm um funcionamento diferente nos portadores da enxaqueca.
No ciclo hormonal das mulheres, a enxaqueca costuma aparecer no período menstrual ou pré-menstrual. Irregularidades menstruais, endometriose, ovários policísticos e reposição hormonal podem ser fatores que agravam a doença. Segundo o neurologista da ABN, isso acontece porque, nesse momento, a mulher fica mais vulnerável.
O consumo de alimentos como queijos, chocolate, café, embutidos e o uso de adoçantes com a substância aspartame, por exemplo, também pode desencadear uma crise. Assim como distúrbios do sono, como insônia ou sono prolongado, exposição ao sol, alterações de hormônios, tabagismo, odores fortes e ingestão de bebida alcoólica.
Diagnóstico
O diagnóstico da enxaqueca é clínico, ou seja, deve ser feito por meio de avaliação médica com um especialista. Um exame neurológico não é necessário, mas é importante para reconhecer essas características. Normalmente, um indivíduo é diagnosticado com a doença se já teve pelo menos cinco crises com as características da enfermidade.
Os sintomas relatados pelo paciente são importantes para o descobrimento da doença. Os exames também podem ser feitos para identificar se existem outros fatores interferindo na dor de cabeça.
A enxaqueca não tem cura, mas é possível tratar a doença e amenizar seus sintomas. Como a doença tem forte relação com o estilo de vida (tabagismo, alimentação inadequada, sedentarismo e transtornos do humor, por exemplo), o tratamento dos pacientes é geralmente realizado de forma multidisciplinar: não só com um neurologista, mas também com nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas.