Segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de janeiro de 2025
Por mais de um século, fabricantes de alimentos e medicamentos adicionaram um produto químico sintético a balas, pílulas, shakes e outros produtos para colorí-los com um vermelho cereja vibrante. Nos Estados Unidos (EUA) essa prática está próxima de terminar.
Na última semana, a Food and Drug Administration (FDA), um tipo de Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) americana, proibiu o uso do Corante Vermelho nº 3 em alimentos, citando preocupações de que o corante comum poderia causar câncer em ratos.
Fabricantes de medicamentos que usam a composição têm até 18 de janeiro de 2028 para reformular seus produtos; os fabricantes de alimentos têm até 15 de janeiro de 2027.
“É um ótimo primeiro passo para os EUA, mas, francamente, estamos muito atrasados”, diz Sheela Sathyanarayana, professora de pediatria da Universidade de Washington que estuda exposições ambientais que afetam a saúde infantil. A União Europeia, Austrália e Nova Zelândia já proibiram a maioria dos usos do Corante Vermelho nº 3 em alimentos.
A FDA permitiu pela primeira vez o uso do Corante Vermelho nº 3 em 1907. Porém, em 1958, o Congresso aprovou uma regulamentação que proíbe a agência de aprovar aditivos alimentares ou corantes que possam causar câncer em animais ou humanos.
Cientistas e grupos de interesse público levantaram preocupações sobre o produto por décadas. A FDA chegou a proibir o Corante Vermelho nº 3 em cosméticos, como batons e medicamentos de uso tópico, em 1990, após pesquisas financiadas pela indústria indicarem que ele causava câncer de tireoide em ratos. No entanto, ele ainda era permitido como aditivo em alimentos e medicamentos.
Em 2022, vários grupos de interesse público solicitaram à FDA que revogasse a autorização do Corante Vermelho nº 3, apontando estudos que mostravam que ratos machos expostos a altos níveis do químico desenvolviam câncer de tireoide.
“Os consumidores não deveriam ser colocados, como foram nas últimas décadas, nessa situação de precisar verificar o rótulo toda vez para ver se este químico que a FDA já deveria ter proibido ainda está presente”, diz Peter Lurie, diretor-executivo do Center for Science in the Public Interest, um dos grupos que apresentou a petição à FDA.
Ao anunciar sua decisão, a FDA observou que os estudos não encontraram ligação entre o corante e o câncer em outros tipos de animais. A agência acrescentou que alegações de que pessoas estão em risco devido ao uso do corante em alimentos e medicamentos ingeridos “não são apoiadas pelas informações científicas disponíveis”.
Além do risco de câncer, algumas pesquisas encontraram uma ligação entre o consumo de corantes alimentares sintéticos, incluindo o Corante Vermelho n.º 3, e problemas comportamentais, como hiperatividade em algumas crianças. No entanto, há limitações nesses estudos, incluindo que muitos dos testes foram pequenos.
Em 2023, a Califórnia tornou-se o primeiro estado dos EUA a proibir o Corante Vermelho nº 3 em alimentos (a lei entrará em vigor em 2027). Desde então, algumas empresas deixaram de usar o corante, disse Melanie Benesh, vice-presidente de assuntos governamentais do Environmental Working Group, uma das organizações que peticionaram a FDA.
Centenas de alimentos e medicamentos ainda contêm o Corante Vermelho nº 3, incluindo algumas marcas de:
* Doces, como balas de milho, pirulitos, jujubas e colares de doces
* “Carnes” veganas, como bacon e salsichas artificiais
* Coberturas, especialmente glacês vermelhos ou cor-de-rosa
* Salsichas e cachorros-quentes
* Algodão-doce
* Cereais
* Biscoitos, bolos e cupcakes, incluindo alguns produtos de red velvet e bolos “funfetti”
* Granulados coloridos
* Leites, bebidas e shakes nutricionais com sabor de morango
* Chicletes
* Vitaminas gomosas
* Misturas para purê de batatas
* Certos medicamentos.