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Geral Escalada da guerra: o que a Coreia do Norte ganha enviando tropas para lutar na Rússia contra a Ucrânia

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O regime de Kim Jong-un tem 3 mil soldados norte-coreanos na Rússia. (Foto: Divulgação/KCNA)

O anúncio feito na quarta-feira (23) pelo secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, de que há militares da Coreia do Norte dentro da Rússia, confirmou o que já diziam Coreia do Sul e Ucrânia, mas não deu respostas a duas perguntas importantes: o que os soldados de Pyongyang estão fazendo ao lado das tropas russas, e, a mais crucial, o que o regime de Kim Jong-un tem a ganhar ao mandar seus cidadãos para uma guerra comparada a um moedor de carne.

O número de soldados que estão na Rússia hoje é incerto. Segundo o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, são entre 10 mil e 12 mil militares de duas unidades de elite, sendo que oficiais e engenheiros já estão em territórios ocupados ucranianos atuando em missões técnicas — no começo do mês, seis deles teriam sido mortos em um bombardeio nos arredores de Donetsk, no leste do país.

Na quarta-feira, o Serviço Nacional de Inteligência da Coreia do Sul (NIS) informou a parlamentares que há, hoje, 3 mil soldados norte-coreanos na Rússia, sendo que o número chegará a 10 mil até dezembro. O primeiro deslocamento ocorreu entre os dias 8 e 13 de outubro, por via aérea e por navios até o porto de Vladivostok, na costa do Pacífico.

Segundo o deputado Park Seon-won, do Partido Democrático (Minjoo), que acompanhou a apresentação, não há sinais de que as tropas já estejam em funções de combate.

“Eles parecem estar dispersos de uma série de instalações de treinamento na Rússia e estão se adaptando ao ambiente local. O treinamento especial também está sendo fornecido em como usar equipamento militar e operar veículos aéreos não tripulados”, disse o parlamentar, citado pela agência Yonhap.

Apesar de ter um dos maiores contingentes do planeta, com cerca de 1,2 milhão de homens (em uma população de 26 milhões de pessoas), as Forças Armadas da Coreia do Norte tiveram pouca experiência de combate depois do fim da Guerra da Coreia, em 1953. Soldados, agentes de inteligência e pilotos foram enviados para conflitos no Oriente Médio, África e na Ásia, mas em pequenos números, e nem sempre em ambiente de combate.

Mas o estreitamento dos laços com a Rússia, que depende dos amplos arsenais norte-coreanos para continuar sua guerra na Ucrânia, foi visto como uma oportunidade para os militares em Pyongyang testarem suas armas — munições de artilharia e foguetes de curto alcance já foram empregados contra os ucranianos — e, agora, seus soldados.

Segundo o Wall Street Journal, citando um oficial da Inteligência russa, o acordo firmado em junho entre os líderes da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e da Rússia, Vladimir Putin, traz uma cláusula secreta que autoriza um envio inicial de mil soldados norte-coreanos para “aprender a executar uma guerra a partir da experiência russa” na Ucrânia. O texto, pelo pouco que foi divulgado publicamente, estabelece uma cooperação de segurança que prevê ações mútuas em caso de agressão a um dos dois lados.

Na semana passada, representantes do NIS sinalizaram que as forças hoje na Rússia, integrantes de uma unidade de elite leal ao regime, devem atuar em áreas de fronteira com a Ucrânia, como Kursk, a região onde forças ucranianas realizaram uma incursão em agosto e ainda não foram expulsas. Eventualmente, elas retornarão para casa com conhecimentos que nem mesmo os longos anos de treinamento militar interno poderiam ter lhes ensinado.

“As tropas das forças especiais retornarão com experiência real no campo de batalha, experiência real de infiltração contra um oponente de combate. Isso as torna mais perigosas”, disse à CNN Carl Schuster, ex-diretor de operações do Centro de Inteligência Conjunta do Comando do Pacífico dos EUA. “Acho que Kim está fornecendo as tropas para obter os recursos de que precisa para sustentar o regime, e lições aprendidas que ele pode aplicar se achar que o conflito está chegando na península.”

O alerta é ainda mais sério se analisado em conjunto com a retórica em Pyongyang. Em janeiro, Kim Jong-un anunciou o abandono do objetivo da reunificação da Península Coreana, começou a apagar e demolir monumentos ligados ao sonho de uma só Coreia e declarou que Seul era um inimigo. Na semana passada, o regime demoliu estradas próximas à fronteira, declarou o Sul um “Estado hostil”, e tem ameaçado lançar uma guerra total com preocupante frequência.

“Nenhum exercício ou treinamento pode replicar a experiência real de guerra e isso pode render dividendos no caso de um futuro conflito na Península Coreana”, disse ao Wall Street Journal Benjamin R. Young, do centro de estudos Rand Corporation.

Também há o lado financeiro: sob bloqueio econômico, a Coreia do Norte vê na parceria com a Rússia um caminho para obter itens básicos, como alimentos, carvão e combustível, além de itens para suas atividades militares. Segundo o NIS, a Rússia paga à Coreia do Norte o equivalente a US$ 2 mil (R$ 11.376,40) mensalmente por cada soldado enviado, em dinheiro. As informações são do jornal O Globo.

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