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Por Redação O Sul | 19 de março de 2021
A dificuldade de abastecer os estoques de oxigênio medicinal no mesmo ritmo do agravamento da pandemia da covid-19 tem preocupado Estados e prefeituras. Em municípios, a maioria do interior, já há relatos de desabastecimento, empréstimo de cilindros entre cidades e até transferência de pacientes que precisam do insumo.
Em audiência pública no Senado na última quinta-feira (18), o general Ridauto Lúcio Fernandes, assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, admitiu que o País está com risco iminente de desabastecimento em municípios do interior e alguns Estados. “A expectativa da falta perigosa desses produtos na ponta da linha, nos pequenos hospitais, é de poucos dias”, declarou.
“Hoje, o maior risco de perda de vida está nas pequenas unidades, mesmo nas capitais, e nos hospitais do interior. São aqueles que vivem do oxigênio gasoso. Está acontecendo em todo o Brasil”, afirmou ele, que também citou a elaboração de um Plano Oxigênio Brasil, sem dar detalhes.
Também na quinta, a Frente Nacional dos Prefeitos enviou ofício ao presidente Jair Bolsonaro em que exige “providências imediatas para solucionar a falta de oxigênio e de medicamentos para o enfrentamento à covid-19”. No documento, o presidente da organização, Jonas Donizette, fala sobre “escassez e iminente falta desses insumos imprescindíveis” e solicita que o governo “determine o redirecionamento de insumos e produtos.”
Dias antes, os governos do Acre e de Minas Gerais procuraram a Saúde em busca de suporte. Em coletiva de imprensa na terça (16), o secretário estadual de Saúde de Minas, Fábio Baccheretti, disse que o pedido de apoio se deve à necessidade de atender à demanda dos leitos que estão sendo abertos e que, mesmo sem ter desabastecimento atualmente, há temor de falta de insumo com o aumento de internações.
Em outros Estados, as promotorias locais têm cobrado transparência e ações nessa área. Em Rondônia, o Ministério Público Federal (MPF) enviou ofício à Saúde para que informe como será solucionado o desabastecimento relatado no interior. No documento, cita o caso de Ariquemes, que ficou três horas sem o insumo por causa de uma pane na produção local.
No Ceará, o MP estadual recomendou que 86 municípios – incluindo Fortaleza – tomem medidas para garantir o estoque de oxigênio por ao menos 10 dias. Na semana passada, a capital cearense precisou transferir 15 pacientes de uma UPA para outras unidades de saúde e hospitalares em decorrência da falta do insumo.
“Tivemos sobrecarga de oxigênio, mas é importante dizer que fizemos uma operação de guerra nesse monitoramento, e nenhum paciente ficou sem oxigênio. Contamos com o apoio da regulação, da rede de leitos e do Samu, que rapidamente atuou na transferência desses pacientes”, justificou a secretária da Saúde, Ana Estela Leite, em vídeo nas redes sociais.
Situação semelhante ocorreu em Bacabal (MA), de 100 mil habitantes, que precisou pedir socorro ao governo estadual para transferir 12 pacientes de um hospital municipal na semana passada em decorrência da falta de oxigênio. Na ocasião, o governador, Flávio Dino (PCdoB) disse que o problema foi “transitório”.
Há cerca de duas semanas, Florianópolis (SC) chegou a notificar o ministério que a fornecedora não estava conseguindo reabastecer os cilindros. A prefeitura diz que a situação foi normalizada na sequência. “A medida foi uma precaução da administração municipal”, destacou a gestão, que afirmou ainda estar com um aumento de mais de oito vezes na demanda.
Além disso, prefeituras do Norte de Minas e da Bahia improvisaram acordo de troca de cilindros. Nesses municípios mineiros, o transporte dos cilindros entre uma cidade e outra é feito muitas vezes em caminhonetes particulares de secretários e servidores. “A produção nesse setor é muito estável, mas com a pandemia a procura triplicou e ninguém estava preparado”, justificou o proprietário da empresa Corsino, do setor de oxigênio medicinal, de Montes Claros.
Em nota, as secretarias de saúde da Bahia e de Minas disseram que o abastecimento de oxigênio segue normal em todas as unidades da rede estadual. Já a fornecedora de oxigênio White Martins disse, em nota, ter visto aumento significativo de demanda para os clientes desses Estados e afirmou ter reforçado sua estrutura para dar conta dos pedidos.
A empresa acrescentou ainda aguardar manifestação formal do governo mineiro sobre as projeções de uso do insumo hospitalar. “É importante que os gestores públicos informem sobre variações na demanda, prosseguiu a empresa, para que haja mais condições de ampliar o fornecimento.”
Em cidades de menor porte, prefeituras e hospitais estão pedindo ajuda para conseguir cilindros. Em Santa Bárbara (MG), a Santa Casa local fez apelo para que moradores que tiverem o item em casa façam a doação “com urgência”. Na semana passada, Valinhos (SP), chegou a solicitar o empréstimo de cilindros a clínicas veterinárias.