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Por Redação O Sul | 21 de novembro de 2017
Após um aluno de 8 anos ter desmaiado de fome enquanto assistia à aula em uma escola do Cruzeiro, no DF (Distrito Federal), a Secretaria de Educação informou que vai “avaliar” a possibilidade de oferecer almoço na unidade. Uma equipe de nutricionistas foi enviada ao colégio para verificar a estrutura da instituição.
Antes da repercussão, a Secretaria de Educação havia dito, em nota, que “lamentava” o caso do aluno. Segundo aquele comunicado, não havia possibilidade de dar almoço aos alunos porque não há ensino integral na unidade – em vez disso, a escola oferta um lanche no meio da tarde.
A divulgação do caso pela TV Globo também motivou a Proeduc (Promotoria de Justiça de Defesa da Educação) do Ministério Público do DF a instaurar um procedimento para investigar o caso. O órgão não informou que tipo de medidas poderiam ser tomadas, com base nessa apuração.
Desmaio de fome
O estudante que desmaiou mora no Paranoá Parque, um empreendimento do Minha Casa, Minha Vida. Como não há colégio público no local, as 250 crianças do condomínio percorrem 30 quilômetros, todos os dias, para frequentar a escola.
Em nota, o Palácio do Buriti contesta a informação de que o aluno desmaiou. No texto, o governo do Distrito Federal diz que o técnico em enfermagem que prestou socorro ao estudante informou que a criança estava “molinha” quando a equipe chegou e que “durante o atendimento no local, a criança não sofreu qualquer desmaio”.
O Buriti ainda citou que a família do estudante recebe o Bolsa Família (R$ 596) e o DF Sem Miséria (R$ 400) e obteve no último dia 6 autorização para receber o auxílio vulnerabilidade (6 parcelas de R$ 408, podendo ser prorrogado por igual período). Em agosto, a família teria recebido uma cesta básica emergencial.
Segundo a professora Ana Carolina Costa, que dá aula para o aluno na Escola Classe 8 do Cruzeiro, a reclamação de fome é comum entre as crianças do turno vespertino. Por causa da distância entre as casas e o colégio, muitas crianças saem das residências por volta 11h, e passam o horário de almoço no transporte escolar do governo.
Cardápio em análise
No texto, a secretaria esmiuçou o cardápio da merenda disponibilizado para os estudantes durante os dias da semana. Arroz com feijão, vitamina de banana e macarronada com cenoura e ovos cozidos estão entre os itens listados. De acordo com a pasta, as crianças têm direito, de duas a três vezes por semana, a refeições como o arroz com feijão.
“Em uma semana, os alunos recebem comida duas vezes por semana e biscoito e suco nos outros três dias. Na outra semana é o oposto. Os meninos ficam até oito horas longe de casa. Mesmo se eles almoçarem às 11h, não dá para aguentar”, disse o diretor do Sindicato dos Professores, Samuel Fernandes.
Como as famílias têm renda baixa, e muitos alunos precisam sair de casa por volta das 11h, eles não conseguem almoçar antes do horário das aulas. A professora Ana Carolina contou que boa parte das crianças nem tem o que comer em casa, e vão à escola contando com a merenda.
“Ficam dispersos, não prestam atenção. Eles falam: ‘tia, tô com fome.’ […] A escola faz o que pode, chama a família, o Conselho Tutelar, não é omissão da escola”, diz a professora.
Embora o colégio já tenha acionado até o Conselho Tutelar, a Secretaria de Educação afirmou que a instituição “precisa comunicar, com documento formal à Coordenação Regional de Ensino, a necessidade de fornecimento de uma refeição diferenciada – procedimento que até então não havia sido feito”.
O Sindicato dos Professores também disse já ter enviado contestação ao governo sobre o caso. “Já pedimos diversas vezes para oferecer almoço e lanche para essas crianças. Como elas vêm de muito longe, não dá para ficar só com o lanche parcial”, diz o diretor da entidade.