O Ensino Remoto que veio a galope, de forma emergencial, sem reflexão, sem embasamento teórico, após 1 ano, revelou um profundo menosprezo às premissas pedagógicas. Toda discussão do valor da interação no cotidiano escolar das últimas décadas, naufragadas num modismo conveniente aos que negam a presencialidade na formação de um ser humano.
Defendido como ensino do futuro, reproduz um modelo arcaico de “despejo” de conteúdo, numa relação vertical, batizada na década de 60 como “educação bancária”, pelo “papa” da maioria dos professores que hoje se furtam de cumprir seu ofício e missão. Nesse formato de ensino a criança e o jovem ocupam um lugar de total passividade sem participação, interação e relação.
O ensino a distância ou remoto que foi tratado e sugerido como mais uma ferramenta de educação, um recurso, passa a ser defendido por grandes escolas e professores interacionistas como capaz de qualificar e dar conta da formação de uma criança. Seu formato de aula gravada e on-line é puramente expositivo, unidirecional, instrucional, atemporal, sem sequência, sem devolução, tornando toda uma geração como mera receptora, acomodada, robotizada, com perdas significativas de habilidades e empatia.
Defendem a possibilidade do vínculo on-line, mesmo com as crianças enquadradas e solitárias, com obstáculos e barreiras que a distância impõe. Seres humanos de toda uma geração tecem suas memórias sem riqueza sensorial, sem entorno, sem cercanias, sem o desafio do outro, sem a inteireza do professor, pois este também está enquadrado.
Ensino remoto é uma ferramenta tecnológica, no máximo algo emergencial, com previsibilidade de início e fim, num intervalo humanamente possível de ser vivenciado. Quem o defende e o incentiva como um bom substituto, nega a própria pedagogia, descredencia seu ofício e comete um crime contra a humanidade.
Fabiane Vitória da Silva — Pedagoga, diretora-executiva da AEPEI-RS, membro do Projeto Lugar de criança é na escola.