Você não precisa ter opinião sobre tudo. Fica tranquilo. Vou te explicar o porquê, e você vai acabar o texto até aliviado. Ou não.
A palavra “opinião” advém do latim “opinio”, ou “conjetura, o que a gente pensa, crença”.
Crença. Aí reside um ponto fundamental. Porque a nossa opinião deveria ser uma construção de ideias, embasada em argumentos lógicos, mas, inevitavelmente, vem atrelada a um conjunto de concepções subjetivas incorporadas por meio da cultura familiar, social, religiosa – enfim, de tudo que absorvemos no decorrer de nossa vida. É necessária muita, muita consciência para dissociar o que é seu e o que lhe foi, naturalmente, imposto.
Dá para dizer que uma opinião, portanto, não tem caráter científico: pelo contrário, é um exercício de “achismo” mesmo – embora, claro, a gente se esforce para fazê-la ser forte e convincente. No fundo, sempre queremos que a nossa opinião seja a melhor. Gostamos de ter razão.
E esse é o problema. Porque o que conforta o nosso ego (ter razão) nem sempre resolve as questões que a vida traz. Muitas e muitas vezes, não temos a menor ideia do que está acontecendo e “fincamos pé” em um pensamento para, sei lá, nos sentirmos seguros. Agimos como aquela pessoa que se agarra em um poste no meio do vendaval para não ser arrastado, mas que acaba tomando um choque pela própria teimosia em sair do lugar. Esse é um movimento (ou melhor, uma inércia) perigoso.
O mundo, porém, parece que tem nos exigido escolher um lado. Tomar partido. Como se você só existisse de forma interessante dependendo de onde se encaixa – e esse “encaixar” depende do que você ACHA, não do que você é. Pronto, vou te botar nessa caixa, ou naquela. E lá está você, portanto, pensando “dentro da caixa” novamente, depois de tantos anos ouvindo que precisamos pensar é fora dela. Complicado, né?
Veja, a minha função, hoje, é emitir a minha opinião. Todo santo-dia. E sobre vários assuntos. Alguns tenebrosos, muitos polêmicos, vários insignificantes. Como manter a sanidade mental? Uma das coisas que mais constantemente trabalho em mim é o equilíbrio entre combate e paz de espírito. Há que se escolher quais batalhas enfrentar, e guardar energia para entrar em campo.
Como fazê-lo, meu Deus, se somos abarrotados de informações e conexões e demandas, o tempo todo? Só tem um jeito, caro leitor: autoconhecimento. Você precisa olhar para dentro de si e entender qual é o conjunto de valores fundamentais, dos quais você não abre mão. Aqueles princípios que, se não observados, ferem a parte mais profunda do seu ser, te motivando a agir para defendê-lo. É sobre isso. É esse conjunto de valores fundamentais que valerá o combate de um bom debate.
Quem tem convicção não tem vergonha. Quem tem convicção tem paixão – mas é importante que não seja uma paixão cega, e sim um amor mais amadurecido. Quem tem convicção não tem mais nem medo. E se tem, vai com medo mesmo, porque aí vale o risco, sob pena de autodestruição: proteger o que você entende como sendo ESSENCIAL para si e para o mundo. Aí vale a luta.
Se não for assim, que escutemos mais. Que estejamos mais abertos a aprender, a ouvir os mais sábios, a observar os fenômenos da natureza, e, também, os comportamentais. Que tentemos entender conclusões científicas e, sim, ponderar novas ideias para, quem sabe, até mesmo repensar a sua própria. Permitir-se ser uma metamorfose ambulante, porque é esse processo que nos faz evoluir. Sem abrir mão, contudo, de seus valores, porque é isso que nos mantém, fortes.
Mas, enfim, essa é só a minha opinião…
(Ali Klemt)