Sábado, 28 de dezembro de 2024
Por Tito Guarniere | 5 de agosto de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Não são apenas presidentes e ex-presidentes: os mortais comuns, tanto mais falem mais próximos estarão das armadilhas do idioma, e portanto de dizerem bobagens memoráveis. Se falassem menos estariam menos sujeitos a tais tropeços que – em muitas ocasiões – os deveriam fazer corar de vergonha.
Já deveriam ter percebido que eles são mais criticados pelo que dizem do que pelo que fazem. É que a imprensa, os jornalistas, e todos aqueles que se ocupam da política, estão sempre à espreita, olhos e ouvidos atentos, marcação cerrada, esperando o erro dos bacanas, e mais ainda, das autoridades.
Na maioria dos casos, trata-se de um mal entendido, ou melhor, algo mal formulado. O personagem quis dizer uma coisa mas saiu algo que poderia ter outra leitura, a qual não serve ao propósito de quem falou. Mas aí o estrago está feito, não tem mais conserto, e ele terá de conviver com a patacoada por muito tempo. Fica tudo gravado nas páginas dos jornais, nas imagens de tevê, e de tempos em tempos, trazidos de volta, ao sabor e conveniência dos inimigos políticos.
Dilma Rousseff tinha uma vantagem sobre Bolsonaro e Lula: a especialidade dela eram os mal enunciados. Havia um conflito insanável entre o que ela dizia (ou queria dizer) e o idioma português. Eram mal enunciados por definição – dizeres engraçados, bizarros, incompreensíveis, contraditórios – dobrar a meta que não existia , estocar o vento, etc.
A marca inconfundível de Jair Bolsonaro era (e ainda é) a ofensa, a declaração preconceituosa, a escatologia, o calão. O país de maricas, “chega de frescura, chega de mimimi”, fuzilar 30 mil corruptos inclusive FHC, quilombola não serve nem para procriar.
Foi o pior momento da relação entre a palavra e um presidente da República. Dá para escrever uma enciclopédia de impropriedades e impropérios. E acrescento : a boca suja de Bolsonaro era relevada por milhões de brasileiros que votaram nele. Muitos deles reagiriam horrorizados diante de um filho que pronunciasse uma só das palavras obscenas do vasto repertório presidencial. Mas como era o presidente, então lhe foi dado licença para proferi-las à vontade.
Lula também foi e ainda é bom nisso de dar tiros no pé quando abre a boca. Um plano do PCC para assassinar Moro foi classificado como uma armação do ex-juiz. “Só vai estar tudo bem quando eu f(….) o Moro”. A Lava Jato foi um conluio entre o Ministério Público, a Polícia Federal e o Departamento de Estado americano. (Bolsonaro) não gosta de gente, gosta de policial. (Pessoas portadores de doença mental) “tem problemas de parafuso”. E por aí vai.
A troca de desaforos é constante e desprimorosa. Lula , para Bolsonaro, é pinguço, analfabeto, jumento. entreguista(?). Bolsonaro, para Lula, é fascista, genocida, titica(de galinha), negacionista.…
O primeiro deles que ignorar e esquecer o outro, vai ganhar pontos e simpatia junto à opinião pública. Não creio que a maioria do povo aprecie o conflito escabroso entre valentões em briga de rua.
O problema está em que escorpiões não escapam à sua natureza e de repente soltam o ferrão.
titoguarniere@terra.com.br
Twitter : @TitoGuatnieree
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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