Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 26 de janeiro de 2024
Escrever à mão pode parecer uma atividade de um passado distante para uma sociedade cada vez mais acostumada a organizar tarefas, fazer anotações e redigir textos em dispositivos digitais. Mesmo para gerações mais novas, computadores são gradativamente mais frequentes em salas de aula devido à rapidez dos teclados e à praticidade de concentrar um mundo de informações num único lugar. No entanto, um novo estudo mostra que substituir a caneta completamente pelas teclas pode não ser uma boa ideia.
Cientistas do Laboratório de Neurociência do Desenvolvimento da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega (NTNU) avaliaram 36 estudantes universitários com um eletroencefalograma (EEG) – exame que analisa a atividade elétrica cerebral, captada por meio de eletrodos colocados sobre o couro cabeludo. Eles foram acompanhados enquanto escreviam à mão e por meio da digitação.
Os resultados, publicados nesta sexta-feira na revista científica Frontiers in Psychology, mostraram que escrever com uma caneta aumenta a conectividade cerebral em diferentes regiões do órgão, o que não foi observado com a digitação no teclado.
“Mostramos que, ao escrever à mão, os padrões de conectividade cerebral são muito mais elaborados do que ao escrever num teclado. Essa conectividade cerebral generalizada é conhecida por ser crucial para a formação da memória e para a codificação de novas informações e, portanto, é benéfica para a aprendizagem”, destaca a professora Audrey van der Meer, pesquisadora do cérebro na universidade e autora do estudo, em comunicado.
No trabalho, os dispositivos digitais não foram completamente descartados – a avaliação foi feita com os participantes escrevendo à mão com canetas digitais em tablets. Mas os responsáveis afirmam que os resultados provavelmente são os mesmos que seriam observados com um papel.
“Mostramos que as diferenças na atividade cerebral estão relacionadas à formação cuidadosa das letras ao escrever à mão e ao mesmo tempo fazer maior uso dos sentidos”, explica van der Meer. “Nossas descobertas sugerem que as informações visuais e de movimento, obtidas por meio de movimentos das mãos controlados com precisão ao usar uma caneta, contribuem extensivamente para os padrões de conectividade do cérebro que promovem a aprendizagem”.
No experimento, os eletroencefalogramas foram conduzidos com o auxílio de 256 sensores, costurados numa rede que era colocada na cabeça dos voluntários enquanto escreviam.
Impactos na aprendizagem
Segundo os pesquisadores, esse menor estímulo cerebral associado à digitação pode levar a prejuízos no aprendizado de crianças alfabetizadas com as telas.
“Isso também explica por que as crianças que aprenderam a escrever e ler em um tablet podem ter dificuldade em diferenciar letras que são imagens espelhadas umas das outras, como ‘b’ e ‘d’. Elas literalmente não sentiram com seus corpos como é produzir essas letras”, diz a cientista norueguesa.
Para ela, o objetivo não é abolir o uso de aparelhos digitais e restringir a educação a livros e cadernos. Mas sim entender os benefícios da escrita à mão e em quais momentos priorizá-la pode ser uma boa estratégia para o desenvolvimento dos alunos em sala de aula:
“Há algumas evidências de que os alunos aprendem mais e se lembram melhor quando fazem anotações de aula manuscritas, enquanto usar um computador com teclado pode ser mais prático ao escrever um texto longo ou ensaio, por exemplo”.