Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 6 de agosto de 2018
A médica e pesquisadora americana, especialista em onco-hematologia pediátrica, transplante pediátrico de sangue e de medula óssea, armazenamento e transplante de sangue de cordão umbilical e em novas aplicações das células do cordão umbilical nos campos emergentes de terapias celulares e da medicina regenerativa, veio a Porto Alegre pela primeira vez. Ela participou do XXI Congresso Gaúcho de Ginecologia e Obstetrícia, que aconteceu no Plaza São Rafael.
Durante a palestra, a médica falou sobre os avanços relacionados ao transplante de sangue de cordão umbilical nas últimas três décadas, apresentando, ao longo da explanação, diversos cases de sucesso em pacientes pediátricos com doenças hematológicas e doenças metabólicas.
Na ocasião, a especialista abordou também os estudos que vem realizando nos Estados Unidos, sobre o uso do sangue de cordão em crianças com paralisia cerebral e autismo. A partir de vídeos e resultados da pesquisa, ela mostrou a melhora na qualidade de vida e a evolução em diferentes aspetos neurológicos e comportamentais nos pacientes tratados.
As pesquisas da Dra. Kurtzberg estão evoluindo. Ela estima que em, aproximadamente, um ano possa apresentar resultados de estudos mais aprofundados que comprovarão ou não o benefício da terapia com sangue de cordão para autismo.
De forma otimista, a médica acredita que dentro de dois a cinco anos o sangue de cordão poderá ter um papel importante em diversas terapias regenerativas, incluindo lesões neurológicas. A especialista atua junto à agência reguladora americana Food and Drug Administration – FDA para o desenvolvimento do estudo clínico fase 3 de paralisia cerebral.
Considerado uma fonte viável de células-tronco hematopoiéticas e glóbulos brancos mais imaturos, o sangue de cordão é aprovado pela Anvisa no Brasil, e pela FDA nos EUA, para ser utilizado em transplantes de medula óssea, como parte do tratamento de aproximadamente 80 doenças, incluindo leucemias, linfomas, anemias graves, doenças metabólicas, imunodeficiências e tumores sólidos.
A coleta do sangue e do tecido do cordão umbilical é realizada por profissionais capacitados dos bancos de cordão umbilical. O procedimento é feito logo após o nascimento do bebê, de forma segura, indolor e sem riscos para a mãe e para o recém-nascido. O material coletado é congelado, armazenado e fica disponível para uso imediato ou futuro, conforme a necessidade.
Em três décadas, já foram realizados mais de 40 mil transplantes de sangue de cordão em todo o mundo, e mais de 4 milhões de unidades foram armazenadas em bancos de cordão umbilical. Até hoje, já foram utilizadas mais de 200 unidades de sangue de cordão provenientes de bancos públicos e privados brasileiros.
Tratamento
Dra. Kurtzberg participou do primeiro transplante de sangue de cordão da história, em 1988, realizado em um paciente seu: o menino Matthew, diagnosticado com anemia de Fanconi e insuficiência da medula óssea. O sangue de cordão utilizado no transplante foi coletado no nascimento da irmã caçula e armazenado nos EUA. O transplante ocorreu no Hospital Saint-Louis, em Paris, sob coordenação da Dra. Eliane Gluckman, e Matthew foi efetivamente curado. Atualmente, ele leva uma vida normal e saudável.
Desde 2010, ano em que criou o Programa Robertson de Terapia Celular Clínica e Translacional na Universidade Duke, a Dra. Kurtzberg se dedica ao estudo e desenvolvimento de novas terapias derivadas do sangue de cordão e do tecido de cordão, para o tratamento de doenças não-hematológicas.
No Brasil, o primeiro transplante de sangue de cordão foi um transplante alogênico – quando o paciente recebe células de outra pessoa – realizado em 1997, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Dois anos depois, a mesma instituição foi pioneira ao realizar o primeiro transplante de sangue de cordão autólogo – quando o paciente recebe suas próprias células – do mundo. O tratamento foi realizado em uma menina de quatro anos com neuroblastoma, um tumor sólido originário do sistema nervoso.
O transplante de sangue de cordão é seguro e oferece benefícios aos pacientes, incluindo igual ou maior probabilidade de sobrevivência após o procedimento e menores chances de rejeição e recaída da doença, em comparação ao transplante de medula óssea.
Os resultados das pesquisas da Dra. Joanne Kurtzberg estão influenciando a agência reguladora americana FDA para a aprovação de novos tratamentos com o sangue de cordão dentro dos próximos anos.