A médica e pesquisadora americana, especialista em onco-hematologia pediátrica, transplante pediátrico de sangue e de medula óssea, armazenamento e transplante de sangue de cordão umbilical e em novas aplicações das células do cordão umbilical nos campos emergentes de terapias celulares e da medicina regenerativa, veio a Porto Alegre pela primeira vez. Ela participou do XXI Congresso Gaúcho de Ginecologia e Obstetrícia, que aconteceu no Plaza São Rafael.
Na ocasião, a especialista abordou também os estudos que vem realizando nos Estados Unidos, sobre o uso do sangue de cordão em crianças com paralisia cerebral e autismo. A partir de vídeos e resultados da pesquisa, ela mostrou a melhora na qualidade de vida e a evolução em diferentes aspetos neurológicos e comportamentais nos pacientes tratados.
As pesquisas da Dra. Kurtzberg estão evoluindo. Ela estima que em, aproximadamente, um ano possa apresentar resultados de estudos mais aprofundados que comprovarão ou não o benefício da terapia com sangue de cordão para autismo.
De forma otimista, a médica acredita que dentro de dois a cinco anos o sangue de cordão poderá ter um papel importante em diversas terapias regenerativas, incluindo lesões neurológicas. A especialista atua junto à agência reguladora americana Food and Drug Administration – FDA para o desenvolvimento do estudo clínico fase 3 de paralisia cerebral.
Considerado uma fonte viável de células-tronco hematopoiéticas e glóbulos brancos mais imaturos, o sangue de cordão é aprovado pela Anvisa no Brasil, e pela FDA nos EUA, para ser utilizado em transplantes de medula óssea, como parte do tratamento de aproximadamente 80 doenças, incluindo leucemias, linfomas, anemias graves, doenças metabólicas, imunodeficiências e tumores sólidos.
A coleta do sangue e do tecido do cordão umbilical é realizada por profissionais capacitados dos bancos de cordão umbilical. O procedimento é feito logo após o nascimento do bebê, de forma segura, indolor e sem riscos para a mãe e para o recém-nascido. O material coletado é congelado, armazenado e fica disponível para uso imediato ou futuro, conforme a necessidade.
Em três décadas, já foram realizados mais de 40 mil transplantes de sangue de cordão em todo o mundo, e mais de 4 milhões de unidades foram armazenadas em bancos de cordão umbilical. Até hoje, já foram utilizadas mais de 200 unidades de sangue de cordão provenientes de bancos públicos e privados brasileiros.
Tratamento
Dra. Kurtzberg participou do primeiro transplante de sangue de cordão da história, em 1988, realizado em um paciente seu: o menino Matthew, diagnosticado com anemia de Fanconi e insuficiência da medula óssea. O sangue de cordão utilizado no transplante foi coletado no nascimento da irmã caçula e armazenado nos EUA. O transplante ocorreu no Hospital Saint-Louis, em Paris, sob coordenação da Dra. Eliane Gluckman, e Matthew foi efetivamente curado. Atualmente, ele leva uma vida normal e saudável.
Desde 2010, ano em que criou o Programa Robertson de Terapia Celular Clínica e Translacional na Universidade Duke, a Dra. Kurtzberg se dedica ao estudo e desenvolvimento de novas terapias derivadas do sangue de cordão e do tecido de cordão, para o tratamento de doenças não-hematológicas.
No Brasil, o primeiro transplante de sangue de cordão foi um transplante alogênico – quando o paciente recebe células de outra pessoa – realizado em 1997, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Dois anos depois, a mesma instituição foi pioneira ao realizar o primeiro transplante de sangue de cordão autólogo – quando o paciente recebe suas próprias células – do mundo. O tratamento foi realizado em uma menina de quatro anos com neuroblastoma, um tumor sólido originário do sistema nervoso.
O transplante de sangue de cordão é seguro e oferece benefícios aos pacientes, incluindo igual ou maior probabilidade de sobrevivência após o procedimento e menores chances de rejeição e recaída da doença, em comparação ao transplante de medula óssea.
Os resultados das pesquisas da Dra. Joanne Kurtzberg estão influenciando a agência reguladora americana FDA para a aprovação de novos tratamentos com o sangue de cordão dentro dos próximos anos.