Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 15 de novembro de 2022
O crescimento de casos da covid no Brasil acende o alerta para o atraso do país em aprovar e garantir doses da nova geração de vacinas contra a doença, que já foi incorporada em campanhas de imunização de países como Estados Unidos, Chile e Reino Unido há mais de um mês. Especialistas e entidades como a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Associação Médica Brasileira (AMB) criticam a demora em articular o acesso às novas aplicações, desenvolvidas para a variante Ômicron, e cobram maior celeridade da Anvisa e do Ministério da Saúde.
Para a pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Margareth Dalcolmo, é fundamental que as vacinas atualizadas já estivessem disponíveis no país para toda a população adulta como doses de reforço. Ela cita o contexto da chegada da variante BQ.1, que tem demonstrado maior potencial de transmissão e de escapar da proteção conferida pelos imunizantes atuais.
“Era fundamental termos as novas vacinas bivalentes disponíveis neste momento em que há uma nova onda com uma cepa altamente transmissível para imunizarmos toda a população adulta, mas não temos. O pedido da Pfizer (para aprovação) entrou na Anvisa em setembro e até agora, por razões que desconhecemos, não está aprovado. Tudo isso nos deixa perplexos e profundamente preocupados devido ao cenário epidemiológico atual, já estamos atrasadíssimos”, diz a especialista.
Falta empenho
Existem duas versões de vacinas atualizadas que já estão sendo aplicadas em outros países e que estão sob análise da Anvisa no Brasil, ambas fabricadas pela Pfizer. As duas são chamadas de bivalentes por envolverem duas variantes do vírus causador da covid: uma parte da cepa original, descoberta ainda em 2019, e outra da Ômicron. Na primeira aplicação, a versão da Ômicron é a sublinhagem BA.1, que circulou em janeiro. Na outra, é a BA.4 e BA.5, que predomina agora.
No Chile, já foram aplicadas mais de 325 mil doses das novas vacinas, segundo o Ministério da Saúde. Inicialmente, elas estão disponíveis a grupos prioritários, como profissionais da saúde, idosos e imunossuprimidos, que tomaram o último reforço até o fim de maio. Nos Estados Unidos, a dose é indicada para todos acima de 12 anos desde o início de setembro, no prazo de ao menos dois meses da última aplicação.
“Um governo que busca ativamente vacinar a sua população deveria ter entrado em contato com os fabricantes das vacinas assim que elas foram aprovadas pela agência sanitária dos EUA. A impressão é de que ou não há verba para o investimento, ou não há vontade, ou os dois”, avalia o geneticista Salmo Raskin, diretor do Laboratório Genetika, de Curitiba.
Embora não envolvam a BQ.1 na formulação, que cresce hoje no mundo, Raskin esclarece que as novas doses devem conferir maior eficácia também contra ela, uma vez que ainda é uma versão da Ômicron, o que as tornam ainda mais urgentes. Ele menciona um anúncio da Moderna nesta quarta-feira que comprovou esse benefício em testes. Além disso, um estudo da farmacêutica publicado na revista científica New England Journal of Medicine já havia demonstrado a capacidade do novo reforço em produzir mais anticorpos para diferentes linhagens da Ômicron.
Doses a receber
As novas formulações estão em fase final da análise na Anvisa para aplicação como reforço a todos acima de 12 anos, mas ainda sem previsão de quando começarão a ser distribuídas no Brasil. No ano passado, o governo brasileiro fechou um acordo para compra de 100 milhões de doses da Pfizer para este 2022. Ainda há cerca de 30 milhões de doses desse contrato para serem recebidas.
Caso as vacinas sejam aprovadas, o Ministério da Saúde pode pedir ao laboratório que essas doses sejam das versões atualizadas dos imunizantes. No entanto, podem também solicitar que sejam versões para o grupo dos bebês a partir de seis meses, que estão em falta hoje no país. O contrato permite ainda o acréscimo de mais 50 milhões de unidades, porém o total de 80 milhões ainda assim não seria suficiente para toda a população acima de 12 anos receber a dose bivalente, e os pequenos serem protegidos.
Até o momento, apenas um milhão de aplicações para os mais novos já chegaram ao país, contingente que não contempla nem mesmo o grupo com comorbidades – único a ter recebido orientação do Ministério para ser vacinado. A decisão de restringir o grupo é inclusive uma crítica dos especialistas e de entidades como a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).