Ao falar sobre como seu governo passou a tratar os parceiros comerciais, o presidente dos EUA, Donald Trump, citou o Brasil em discurso ao Congresso. “União Europeia, China, Brasil, Índia, México e Canadá e diversas outras nações cobram tarifas tremendamente mais altas do que cobramos deles”, disse ele, na noite de terça-feira.
Desde que assumiu o cargo, em janeiro, o republicano ameaça aliados comerciais com tarifas. Dois deles, México e Canadá, que têm um acordo de livre comércio com os EUA, conseguiram em duas negociações diferentes adiar a vigência de novas taxas de 25% – a última delas na quinta-feira passada. A China teve destino diferente e já paga sobretaxa de 20% para enviar mercadorias aos EUA.
O Brasil, quase sempre citado por Trump como parceiro comercial que leva vantagem sobre os EUA, já pode começar a sentir os efeitos da gestão Trump na próxima quarta-feira, quando começa a valer a taxação decretada pelo republicano para o aço. O governo brasileiro ainda tenta reverter a decisão e conseguir, como mexicanos e canadenses, um adiamento do tarifaço.
Em relatório enviado ao Congresso americano pela Casa Branca sobre como as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) prejudicariam os EUA, técnicos do governo americano mencionam repetidas vezes queixas que o Brasil faz ao órgão regulador mundial do comércio exterior contra os EUA.
Hoje, as transações comerciais são amparadas pelo conceito de tarifa consolidada média, que é a taxa máxima de importação que um país pode aplicar sobre um produto, conforme a OMC. Esse limite, em geral, é maior do que as tarifas efetivamente aplicadas. Se for excedido, o país pode ser alvo de pedido de retaliação no órgão regulador.
No documento remetido ao Legislativo dos EUA, o gabinete da presidência americana escreve que “um dos resultados dos fracassos de negociações é que muitas potências comerciais continuam a ter tarifas consolidadas muito altas em relação às aplicadas pelos EUA”.
O primeiro exemplo citado é o do Brasil, que tinha, em 2023, tarifa consolidada média de 31,4% e aplicava taxa de 11,2%. Já os Estados Unidos possuíam tarifa consolidada média de 3,4%, mas a cobrança na prática ficava em 3,3%.
Relatório publicado em janeiro pelo Itaú Unibanco diz que o Brasil tarifa, em média, em 11,2% os produtos importados americanos, enquanto os Estados Unidos aplicam uma média de apenas 1,5% para os itens brasileiros. O relatório, assinado pelos economistas Igor Barreto Rose e Julia Marasca, avalia que o País pode ter prejuízos se Trump, de fato, aplicar uma tarifa “universal” de 10% ou se adotar como princípio a equiparação das taxas. (Estadão Conteúdo)