Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 14 de abril de 2024
O embaixador do Brasil em Israel, Daniel Zonshine, ficou desapontado com a resposta do governo brasileiro aos ataques do Irã a Israel iniciados no último sábado (13), e disse ainda esperar uma condenação por parte das autoridades do País. O embaixador admitiu a crise diplomática entre Brasil e Israel, e não hesitou na hora de questionar a posição do governo Lula após o Irã ter lançado mísseis e drones contra seu país.
Após confirmado o ataque iraniano a Israel, o Itamaraty divulgou uma nota na qual expressou “preocupação” e afirmou esperar uma mobilização da comunidade internacional “no sentido de evitar uma escalada”. “A mensagem que o Itamaraty publicou ontem mencionou o ataque do Irã a Israel, mas não condenou. Do nosso ponto de vista, isso merece ser condenado. Esperamos uma condenação do Brasil, como outros países já condenaram esse ato, que é um ato terrorista”, afirmou.
O conflito entre Irã e Israel foi motivo de conversas por telefone entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu Assessor para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. O Itamaraty se pronunciou por meio de um comunicado oficial, na na noite de sábado, horas depois do ataque do Irã a Israel.
Na avaliação das fontes consultadas, o ataque “era esperado, e, finalmente, não causou grandes danos a Israel”. As mesmas fontes afirmaram que “durante várias horas houve certa confusão sobre o que de fato estava acontecendo, e o Brasil esperou até ter informações confirmadas para elaborar a nota”. Por enquanto, não há qualquer movimento por parte do Brasil para condenar o Irã pelo ataque.
Zonshine, que está em Israel, disse que cerca de 99% dos mísseis e drones lançados pelo Irã não atingiram o país graças a uma coordenação de Israel com aliados para interceptar os ataques. O embaixador ressaltou, no entanto, que isso não reduz a gravidade da ação, visto que houve a intenção de um ataque duro.
“Achávamos importante que o Brasil, como um país da paz e soluções pacíficas, condene ataques de várias naturezas. Ver com preocupação não é condenação. É outro tipo de coisa. No mundo diplomático, palavras são importantes, e a falta de palavras também”, frisou.
O embaixador pontuou que o Brasil teve a oportunidade de usar palavras “mais fortes”, mas preferiu usar “palavras muito leves”.
“Crise diplomática”
O embaixador Zonshine admitiu que Israel e o Brasil estão no meio de uma crise diplomática iniciada neste ano, segundo ele, após falas de Lula . Em fevereiro, o presidente comparou a ação de Israel na Faixa de Gaza ao que Hitler fez com os judeus. Em paralelo, o governo brasileiro apoiou a ação da África do Sul na a Corte Internacional de Justiça (CIJ), onde o governo sul-africano acusou Israel de genocídio. Tudo isso levou o governo de Israel, que é mais próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro, a declarar o presidente Lula persona non grata, escalando a crise diplomática entre os dois países.
“Estamos numa crise diplomática há mais ou menos dois meses. Espero que, o mais rapidamente possível, possamos voltar para reações mais normais, digamos. Reações mais úteis, mais positivas, para desenvolver as relações entre os países. A diplomacia às vezes leva tempo. É preciso esforço dos dois lados”, concluiu o embaixador.
Comunidade judaica
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) também se queixou pela reação brasileira ao ataque do Irã contra Israel. Em nota, a entidade afirmou que a posição do governo “é mais uma vez frustrante”. “O mundo democrático e vários países do Oriente Médio se uniram a Israel em condenar e combater o ataque do Irã. Já a atual política externa do Brasil optou por se colocar ao lado da teocracia iraniana, desviando novamente de nossa linha diplomática histórica de condenar agressões desse tipo. Lamentável”, diz a nota.
A StandWithUs Brasil também expressou sua decepção pelo que considerou uma “omissão do governo brasileiro”. Segundo a organização, a nota do Itamaraty “não repudiou a agressão do regime iraniano contra o povo israelense, limitando-se a falar em preocupação por relatos de envio de drones e mísseis, apesar do documento ter sido divulgado quando o mundo inteiro já sabia da magnitude do ataque”. As informações são do O Globo.