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“Essa greve vai cair no seu colo”, alertou Temer a Bolsonaro sobre paralisação de caminhoneiros

Ex-presidente tinha sido acusado de chefiar esquema que teria desviado R$ 10,8 milhões das obras de Angra 3. (Foto: Alan Santos/PR)

Após propor, escrever e arrancar do presidente Jair Bolsonaro um compromisso de moderação e reconstrução de pontes com o Supremo Tribunal Federal (STF) – e com seu principal alvo, o ministro Alexandre de Moraes –, o ex-presidente Michel Temer disse que é “um eterno otimista”. “Estou muito feliz. É hora de distensionar o País”, afirmou ele, que acertou a trégua com Bolsonaro e com Moraes.

“Veja bem. O presidente não falou num comício, em uma entrevista, ou no cercadinho do Alvorada. Ele assumiu um compromisso formal, escrito e assinado com a Nação, um compromisso de moderação”, disse Temer, informando que o presidente leu seu texto, pediu um tempo para pensar e fez “pequenos ajustes”.

No manifesto, que caracteriza um recuo, o presidente defende: “Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando justo em favor do povo e todos respeitando a Constituição”.

E lembra que a harmonia entre os Poderes “não é vontade minha, mas determinação constitucional de todos, sem exceção”.

Temer relatou que Bolsonaro telefonou três vezes para ele, entre a noite de quarta (8) e a manhã de quinta (9), e mandou o avião presidencial da FAB para buscá-lo em São Paulo. Em um dos telefonemas, o ex-presidente passou o aparelho para Moraes, que estava ao seu lado, colocando o ministro e o presidente em contato. Temer desembarcou em Brasília com um texto pronto, que ofereceu a Bolsonaro em um almoço a três no Planalto. Além dos dois, só participou o advogado-geral da União, Bruno Bianco.

O principal conselho de Temer, quando Bolsonaro criticou o Supremo e Moraes, foi claro e direto: “Presidente, vamos olhar o futuro!” Ele estava à vontade para o papel de apaziguador, porque, depois do primeiro telefonema de Bolsonaro, ligou para Moraes, que se dispôs a conter o incêndio institucional.

Moraes disse a Temer que não tem nada pessoal contra Bolsonaro, seus filhos ou familiares, e apenas “age juridicamente”. Os dois têm longa relação de amizade, e Moraes foi ministro da Justiça e indicado para o Supremo pelo próprio Temer. Além de conversar com Moraes, Temer almoçou com Bolsonaro.

Segundo o ex-presidente, Bolsonaro não tratou no almoço nem sobre temores diante da possibilidade de sofrer impeachment ou processo por crime de responsabilidade, muito menos os dois falaram sobre a hipótese de Bolsonaro ou seus filhos serem presos por ordem do Supremo, como o presidente já disse publicamente.

Um dos temas importantes do almoço, porém, foi bastante atual: a crise criada pela greve dos caminhoneiros. Segundo disse Temer, Bolsonaro afirmou que o movimento era autônomo e “contra o Moraes”, ao que ele alertou para os efeitos contra o próprio Bolsonaro. “Presidente, eu já passei por isso. Mais cedo ou mais tarde, com desabastecimento, aumento de preços, essa greve vai cair diretamente no seu colo”, disse Temer a Bolsonaro, que, segundo ele, concordou. Antes de embarcar de volta para São Paulo, o ex-presidente comentou que recebera um telefonema do Planalto e comemorou: “Eles (os caminhoneiros) já estão desmobilizando”.

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