Estado mais bolsonarista do País em 2022, Roraima praticamente ignora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como padrinho político e a disputa nacional. O PT local é fraquíssimo, a ponto de não lançar nem candidaturas a prefeito em nenhuma das 15 cidades do Estado este ano. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), contudo, também tem presença discreta na campanha e o PL, partido dele, é coadjuvante nesta eleição municipal.
Há dois anos, ao tentar a reeleição, Bolsonaro teve 76% dos votos válidos no segundo turno em Roraima, sua melhor taxa entre os entes da federação. No total do País, ele recebeu 49,1% dos votos e perdeu para Lula. Em 2018, a votação dele no Estado também superou os 70% no segundo turno. Roraima é o Estado menos populoso do País e representa 0,25% do eleitorado.
O apoio do ex-presidente chegou a ser alvo de disputa há dois anos entre os dois principais grupos políticos locais, o da ex-prefeita de Boa Vista Teresa Surita (MDB) e do ex-senador Romero Jucá (MDB) contra o do governador Antonio Denarium (PP). Surita, que era a favorita ao governo de Roraima, segundo as pesquisas, recebeu o apoio do PL local, que indicou o então presidente do partido e deputado Édio Lopes como vice. Bolsonaro, porém, gravou vídeo para Denarium, que virou e ganhou a eleição.
Este ano, o PL manteve a aliança com o grupo do MDB. O partido indicou o médico Marcelo Zeitoune, que atendia Bolsonaro na Presidência, como vice do prefeito Arthur Henrique (MDB), que concorre à reeleição. No encontro em que foi negociado esse apoio, Bolsonaro gravou vídeo defendendo voto no emedebista, que foi compartilhado por Zeitoune em suas redes sociais e replicado pelo prefeito. Mas a gravação não ganhou maior destaque e Bolsonaro não apareceu em nenhuma propaganda na TV.
Henrique disse ao jornal Valor Econômico que Bolsonaro pediu em troca ajuda para eleger um senador em 2026, mas ainda não escolheu quem lançará. “A grande maioria dos eleitores em Roraima manifesta apoio ao Bolsonaro. Tem gente que dizia que não votava em mim e que agora vai votar por causa desse apoio. E tem gente que me disse que gostaria que eu não tivesse com ele, mas que continuará votando em mim mesmo assim. Ninguém me falou que deixará de votar”, afirmou.
De acordo com aliados, o apoio serviu para que Arthur Henrique ampliasse seu tempo de propaganda eleitoral na TV e também evitasse que a candidata do governador, a deputada estadual Catarina Guerra (União), colasse nele a pecha de “esquerdista” – algo que poderia ser decisivo numa cidade em que 50% dos eleitores se identificam como de direita, segundo pesquisa Quaest divulgada em 27 de agosto. De acordo com a sondagem, 44% dos eleitores de Boa Vista gostariam que o prefeito fosse aliado de Bolsonaro e apenas 5% de Lula. Outros 39% preferem que ele seja independente.
Apesar da popularidade de Bolsonaro e do tamanho da bancada federal, o PL terá posição de coadjuvante na disputa, com candidatos a vice em cinco cidades e foco na eleição de vereador. A atual direção da sigla prometia concorrer em todas as cidades, mas só disputará a prefeitura em Cantá e Alto Alegre – em ambas, contra os atuais prefeitos. Até partidos menores, como Rede, Psol, PDT e Podemos, terão mais nomes na eleição municipal.
O PL de Roraima é comandado desde o ano passado por Valdeilson da Silva, autodenominado “Deilson Bolsonaro”, que, segundo políticos locais, é filho de uma ex-funcionária do ex-presidente e tem uma relação de grande proximidade com ele.
O PT de Lula, contudo, consegue ser ainda menor. A sigla não terá nenhum candidato próprio a prefeito e lançou apenas 16 para vereador. Os governos petistas têm, há anos, alta rejeição no Estado. Segundo políticos locais, isso ocorre pela percepção de que o PT travou o desenvolvimento de Roraima com a demarcação de terras indígenas e pela posição pró-garimpo dos eleitores, que foi a base de fundação do Estado – inclusive homenageada com estátua na principal praça da capital, em frente ao palácio.
A federação do PT com PV e PCdoB até terá candidato na capital: o arquiteto Mauro Nakashima (PV). Mas, como o próprio admite, os petistas não têm feito campanha para ele, que entrou no PV em 2013, pela identificação com as ideias de desenvolvimento sustentável, e estava fora do país, estudando urbanismo e trabalhando para uma incorporadora imobiliária, quando a federação foi fundada em 2022.
Ao voltar ao Brasil e participar das reuniões com a militância do PV, Nakashima defendeu que a federação do presidente tivesse candidato próprio em Boa Vista e foi escolhido. “Pedi um vice do PT. Ficamos uma semana procurando e não tinha. Fomos de chapa pura [do PV]”, conta. Lula gravou vídeo de apoio para ele, mas que até agora não foi divulgado nem na TV nem na internet. As informações são do jornal Valor Econômico.