Os Estados Unidos acreditam que o segundo turno das eleições 2022 no Brasil será pacífico e conduzido de forma profissional. A afirmação foi feita na sexta-feira (28), pelo porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price. De acordo com ele, tanto os americanos quantos os brasileiros confiam na mesma organização realizada no primeiro turno do pleito.
“O povo do Brasil, dos EUA e do mundo todo têm toda a confiança de que o Brasil será capaz de organizar um segundo turno da mesma maneira”, disse. “Conduzindo com credibilidade e transparência”, acrescentou.
Price ainda ressaltou a democracia brasileira, dizendo que serve como modelo para o mundo. “A democracia brasileira foi testada pelo tempo, as instituições democráticas servem de modelo para nações no hemisfério e no mundo. Temos toda a expectativa e confiança que isso continuará sendo verdade quando o Brasil concluir o segundo turno nos próximos dias”, completou.
A declaração ocorre no mesmo dia em que parlamentares da esquerda americana voltaram a acionar o presidente dos EUA, Joe Biden, pedindo reconhecimento imediato do resultado das urnas. Questionado se o país pretende reconhecer automaticamente o vencedor, Price não respondeu.
Em carta ao presidente, 31 parlamentares — 9 deles senadores e 22 deputados — afirmam que “repetidos ataques às instituições democráticas brasileiras” são “uma preocupação crescente” e que diante da “recusa do presidente Bolsonaro em admitir que respeitará o resultado da eleição e, na ausência de denúncias fundamentadas de irregularidades”, os EUA e a comunidade internacional devem reconhecer prontamente já no domingo (30) o vencedor da eleição apontado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O receio entre quem acompanha política brasileira na capital americana é de um tumulto no Brasil similar ao de 6 de janeiro de 2021 em Washington, quando uma multidão insuflada pelo ex-presidente Donald Trump invadiu a sede do Congresso para impedir a confirmação da vitória de Biden na eleição.
A diplomacia americana tem tentado se distanciar o quanto possível de contestações ao processo eleitoral por parte do governo brasileiro. Em julho, após Bolsonaro convocar os embaixadores para disseminar tese golpista sobre a eleição, a representação de Washington em Brasília emitiu comunicado em que afirmou confiar no sistema eleitoral brasileiro, descrito como um “modelo para as nações”.
Na carta enviada a Biden, os parlamentares se referem às urnas eletrônicas brasileiras como “um dos sistemas de votação mais seguros e confiáveis do mundo” e afirma que Bolsonaro não apresentou provas de fraude.
“Não obstante o claro compromisso da sociedade brasileira com a democracia, há fortes temores de que se Bolsonaro perder ele contestará os resultados do segundo turno, quando a diferença entre Bolsonaro e Lula pode ser muito menor.”
“Se esses temores forem confirmados e Bolsonaro rejeitar ativamente os resultados das eleições, então devemos estar preparados para uma posição inequívoca em defesa da democracia no Brasil”, dizem os parlamentares.
Assinam a carta os senadores Bernie Sanders, Patrick Leahy (presidente pro tempore do Senado) e o presidente da comissão de Relações Exteriores do Senado, Bob Menendez. Do lado dos deputados, também está o chefe do comitê de Relações Exteriores da Câmara, Gregory Meeks, e Jamie Raskin, que investiga a invasão do Capitólio -com exceção do independente Sanders, todos são do Partido Democrata.
É a manifestação mais eloquente feita pelos parlamentares americanos entre o primeiro e o segundo turno. A comunidade internacional esteve mais ativa na campanha anterior ao primeiro turno, quando os congressistas também escreveram a Biden, pedindo que ele deixasse claro que o Brasil perderia o apoio para ingressar na OCDE e o status de aliado extra-Otan se Bolsonaro insistisse em atos de tom golpista.
Na semana do primeiro turno, o Senado ainda aprovou uma moção de Bernie Sanders em favor da democracia no Brasil. No mesmo dia, 51 membros do Parlamento Europeu entregaram uma carta à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e ao chefe da política externa do bloco, Josep Borrell, que pedia para que a UE monitore o pleito e apoie as instituições democráticas do Brasil.