Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 20 de janeiro de 2024
Às vésperas de a guerra entre Israel e o movimento extremista palestino Hamas entrar na 15ª semana, uma declaração do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu causou mal-estar com os Estados Unidos, um aliado histórico. “Israel deve ter o controle da segurança de todo o território situado a oeste do (Rio) Jordão. É uma condição necessária, que está em contradição com a ideia de soberania (palestina)”, afirmou, em uma clara rejeição à fórmula baseada na coexistência de dois Estados soberanos e independentes. “Eu digo essa verdade aos amigos americanos e também interrompi a tentativa de imporem uma realidade a nós, a qual prejudicaria a segurança israelense. O primeiro-ministro deve ser capaz de dizer ‘não’ aos nossos amigos”, acrescentou, na quinta-feira.
Apesar de não ser um posicionamento novo, o contexto em que a afirmação foi feita levou o presidente Joe Biden a telefonar para o líder do Estado judeu. Foi a primeira conversa entre os dois desde 23 de dezembro, quando ambos adotaram um tom acalorado. Em comunicado à imprensa, a Casa Branca informou que Biden discutiu com Netanyahu sobre a responsabilidade de Israel em manter a pressão militar sobre o Hamas e seus líderes, a fim de reduzir os danos civis e proteger os inocentes. “O presidente também discutiu sua visão para uma paz e segurança duradoras para Israel, totalmente integrada à região, e uma solução de dois Estados com a segurança de Israel garantida”, afirma a nota.
“Evidentemente, vemos as coisas de forma diferente”, respondeu o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, ao ser questionado por um jornalista sobre a fala de Netanyahu. “O presidente ainda acredita na promessa e na possibilidade de uma solução de dois Estados”, reiterou.
Secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestina e potencial sucessor do presidente palestino, Mahmud Abbas Mustafa Barghouti lembrou que a posição de Netanyahu não é nova. “Ele tem estado contra a Palestina desde 1994. Os palestinos continuarão a lutar por sua liberdade”, assegurou. “Esta é uma clara prova da intenção de Netanyahu e de seu governo de destruírem qualquer possibilidade de paz e de anexar a Cisjordânia a Israel. Netanyahu não teria ido tão longe se não fosse pelo apoio e pela cumplicidade dos EUA.”
Estado palestino
Em pronunciamento da Universidade de Valladolid, na Espanha, Josep Borrell, chefe de Política Externa da União Europeia, defendeu que a criação de um Estado palestino deve ser “imposta de fora”. “Os atores se opõem demais para conseguirem chegar a um acordo de forma autônoma”, declarou. “Se todos forem a favor desta solução, a comunidade internacional terá de a impor.”
“Agora caiu a última máscara de Netanyahu, de seu governo e dos israelenses. Isso é um desafio para o mundo”, disse à reportagem Ibrahim Alzeben, embaixador da Palestina no Brasil. O diplomata sublinhou que o premiê de Israel não acredita na solução de dois Estados ou na paz com o povo palestino.
“Ele não reconhece o povo da Palestina desde que assumiu a liderança do Partido Likud e o posto de premiê. Se havia uma ilusão sobre as intenções de Netanyahu, as coisas, agora, estão muito claras”, comentou Alzeben. Para ele, a questão está nas mãos das instituições internacionais. “Elas devem assumir as suas responsabilidades pela segurança e pela paz no mundo, ameaçada pelo comportamento violento de Netanyahu e de seu governo, algo contrário aos desejos e interesses do mundo.”
Naim Qassem, número dois da milícia xiita libanesa Hezbollah, ameaçou Israel, caso as tropas de Netanyahu decidam expandir o conflito para a fronteira entre os dois países. “Se Israel resolver ampliar sua agressão, receberá um tapa no rosto, em resposta”, prometeu, por meio de comunicado. Ele emendou que qualquer restauração da estabilidade na fronteira depende “do fim da agressão em Gaza”. “O inimigo deve saber que estamos prontos. (…) Nossa vontade de repelir a agressão é infinita”, acrescentou Qassem.
Irã-Paquistão
Os governos de Irã e do Paquistão “concordaram com uma desescalada”, depois de bombardeios dos dois países lançados contra bases terroristas em ambos territórios. “Os dois ministros das Relações Exteriores concordaram em que a cooperação e a coordenação contra o terrorismo e outros aspectos de interesse comum devem ser reforçadas”, declarou a Chancelaria paquistanesa, ao relatar uma conversa por telefone entre os chefes da diplomacia de ambos os países.