Os Estados Unidos reconheceram que o Brasil fez “anúncios significativos” na Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-26), em Glasgow, na Escócia. Apesar de reconhecerem uma mudança de postura, os acenos brasileiros na pauta ambiental, a prioridade na diplomacia de Washington, ainda não foram suficientes para destravar a relação de mais alto nível, entre os presidentes Jair Bolsonaro e Joe Biden.
Biden tomou posse em janeiro, após as rusgas da campanha eleitoral em que Bolsonaro apoiou o derrotado Donald Trump. Houve trocas de cartas protocolares entre os presidentes, mas eles nunca mantiveram conversas reservadas.
Durante o encontro do G20, na Itália, Bolsonaro não conseguiu espaço na agenda de Biden. Ele disse a jornalistas que o democrata aparenta estar “bastante reservado para todo mundo” e “fala muito pouco, diferente do Trump”.
Questionado nesta sexta-feira, dia 5, sobre a possibilidade de um primeiro contato bilateral entre eles, após a COP-26, seja por telefone ou reunião presencial, o encarregado de negócios Douglas Koneff, chefe da embaixada norte-americana em Brasília, foi sucinto: “Só posso dizer que temos comunicação constante entre vários níveis de governo”.
Ele ponderou que a relação entre os países é ampla, em várias áreas, e se dá também por meio de outras esferas de governo e com a sociedade civil. O encarregado de negócios segue à frente da embaixada desde a saída em julho do embaixador Todd Chapman, que havia sido indicado por Trump.
Koneff disse que os primeiros anúncios foram realizados por Bolsonaro em abril, durante um encontro de líderes convocado por Biden, e que os planos de ação estão sendo detalhados agora pela delegação brasileira em Glasgow, que vem sendo cobrada por mais informações por outros países. O governo americano aguarda, porém, a implementação futura e os resultados.
“Estamos satisfeitos com os anúncios do Brasil”, disse Koneff. que minimizou as pressões de Washington por adesão de Brasília nos acordos globais para proteção de florestas e para redução do gás metano em 30%, até 2030. Ele disse que os diplomatas conversam entre si e apresentam suas propostas e compromissos, pedem assinatura de outros países, mas que isso não significa que haja pressão. “O Brasil decidiu contribuir de forma independente.”
Diplomatas norte-americanos têm reiterado uma postura otimista em relação às regras do Acordo de Paris para estabelecer o mercado global de carbono. Do lado do Brasil e dos europeus, há mais ceticismo, sobre o chamado “Artigo 6”.
As negociações envolvem o aproveitamento de créditos passados gerados por mecanismos previstos no Protocolo de Kyoto, transparência para evitar a dupla contagem entre quem vende e quem compra excedentes de carbono, entre outros pontos.
“O papel do Brasil na COP-26 tem sido muito bom, vamos ver o que acontece na próxima semana. Espero que com ajuda do Brasil possamos chegar a um consenso sobre o artigo 6”, afirmou Koneff.
Diplomatas norte-americanos em Brasília dizem que nenhum país fez o suficiente para evitar um colapso climático. Eles cobram mais ambições e o aumento de esforços globais.
O Brasil antecipou a meta de neutralidade nas emissões para 2050, prometeu zerar o desmatamento ilegal em 2028 e reduzir as emissões de gases em 50% até 2030.
Nem o Brasil, nem os Estados Unidos, porém, assinaram ainda um acordo para acabar com o uso de carvão como fonte de energia. “Essas conversas continuam, ainda não sabemos qual será o resultado”, disse Koneff.