A Rússia pode atacar “nos próximos dias” o território ucraniano com o míssil hipersônico experimental Oreshnik, com capacidade de transportar múltiplas ogivas nucleares, sinalizou uma autoridade dos Estados Unidos. A arma foi usada pela primeira vez no mês passado, sem carregar ogivas, numa ação contra a região de Dnipropetrovsk — o que acendeu alertas ao redor do mundo. A declaração acontece no momento em que o Kremlin acusou Kiev de atacar um aeródromo no sul da Rússia com seis mísseis de longo alcance ATACMS, de fabricação americana, prometendo responder com “medidas apropriadas”.
“A Rússia sinalizou sua intenção de lançar outro míssil experimental Oreshnik contra a Ucrânia, potencialmente nos próximos dias”, disse a autoridade sob condição de anonimato. “Mas é improvável que esse míssil reverta a dinâmica no campo de batalha; ele busca intimidar a Ucrânia e seus aliados. É improvável que o Oreshnik, com sua ogiva menor e disponibilidade limitada, vire a maré do conflito”, acrescentou.
Outra autoridade dos EUA tentou amenizar a preocupação, dizendo que “a Rússia provavelmente tem apenas um punhado desses mísseis experimentais”.
Segundo o presidente russo, Vladimir Putin, o primeiro ataque com o Oreshnik, em novembro, foi uma resposta ao ataque ucraniano com mísseis de longo alcance fabricados nos EUA e no Reino Unido contra alvos dentro do território russo — um apelo antigo do líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, mas cuja autorização só veio no mês passado.
Até então, a utilização da arma estava limitada à regiões dentro da Ucrânia, incluindo as anexadas por Moscou, ou próximas à fronteira.
Mais recentemente, Putin ameaçou usar o míssil para atacar “centros de tomada de decisão” na capital Kiev, onde o governo ucraniano está sediado. Endurecendo ainda mais o tom, o presidente russo anunciou que a indústria de defesa do país já está produzindo novas unidades do Oreshnik, arma que atinge dez vezes a velocidade do som e com capacidade de atingir alvos em até 3 mil quilômetros — alertando analistas para uma possível escalada da guerra para um conflito nuclear.
Na última semana, Putin chegou a levantar a possibilidade de implantar seu míssil Oreshnik no próximo ano na Bielorrússia, seu aliado mais próximo, cuja fronteira com a Ucrânia fica a 100 quilômetros de Kiev.
Na Ucrânia, a nova arma gerou medo entre a população, levando alguns a buscar novamente proteção em abrigos quando os alarmes de ataque aéreo são acionados.
O míssil Oreshnik, desconhecido até o ataque no mês passado, pode alcançar qualquer lugar da Europa e poderia chegar à costa oeste dos Estados Unidos, de acordo com as características descritas por Putin, que prometeu avisar antes de lançá-lo. Em novembro, o seu lançamento foi informado pela Rússia aos EUA com 30 minutos de antecedência através do canal direto mantido entre os dois países desde o final da Guerra Fria.
Ameaça de resposta
O temor dos EUA surge no mesmo dia em que Moscou prometeu retaliar com “medidas apropriadas” um suposto ataque ucraniano contra um aeródromo no sul da Rússia, na madrugada desta quarta-feira, com mísseis ATACMS de longo alcance de fabricação americana.
“Foram usados seis mísseis balísticos ATACMS fabricados nos EUA. Dois dos mísseis foram abatidos pelo sistema de defesa aérea Pantsir, enquanto os outros foram desviados com equipamentos de guerra eletrônica”, informou o Ministério da Defesa russo.
Até o momento, as autoridades ucranianas não reivindicaram nem comentaram sobre o suposto ataque.
Em resposta aos frequentes bombardeios russos contra infraestruturas e cidades da Ucrânia, Kiev intensificou seus ataques contra locais militares e energéticos da Rússia, para perturbar a logística do Exército de Moscou, que ocupa cerca de 20% do território ucraniano.