Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de março de 2024
Nas prévias presidenciais americanas, foi possível, ainda que por uma noite, deixar em segundo plano, bem, os próprios presidenciáveis. Com Joe Biden e Donald Trump matematicamente escolhidos, desde a semana passada, para disputar a Casa Branca, respectivamente, por democratas e republicanos, a atenção nas primárias desta terça-feira em cinco estados – Flórida, Kansas, Illinois, Arizona e Ohio – se desviou para as disputas locais. Especialmente as com potencial real de afetar a governabilidade em qualquer cenário após as eleições de novembro.
A mais apimentada e consequente delas era, de longe, a briga de foice pela vaga republicana ao Senado no Ohio. Como os democratas têm hoje maioria de apenas um voto na Casa e as cadeiras em jogo este ano sugerem um mapa claramente favorável à direita, a peleja ganhou significância ímpar.
O estado do meio-oeste deu vitórias a Trump em 2016 e 2020. Mas também mantém no Senado, desde 2006, o democrata Sherrod Brown, muito mais liberal do que a maioria de seus eleitores. E exemplo solitário e derradeiro de democrata apoiado por sindicatos com caminhão de votos de eleitores sem curso superior. Ao mesmo tempo, é o poderoso comandante da Comissão de Finanças da câmara alta do Capitólio, e, por isso mesmo, recebe rios de dinheiro de corporações para suas campanhas. Em 2016, quando disputou sua segunda reeleição ao cargo, registrou-se no estado algo que no Brasil certamente seria batizado de voto Trumprod, fenômeno que os republicanos agora querem evitar a todo custo.
Mas isso ficou, indicam as pesquisas, mais difícil com o resultado das primárias na terça-feira. Na disputa à direita, o candidato menos convencional era, obviamente, o apoiado por Trump. Bernie Moreno é um empresário que fez a vida vendendo carros em Cleveland. Durante sua campanha, destacou-se pelas posições contra o direito ao aborto em quaisquer circunstâncias e anti-LGBTQUIA+. Até que a Associated Press publicou reportagem sobre o uso de seu e-mail de trabalho para a criação de uma conta em um site de encontros sexuais voltado para homens gays. A campanha afirmou que aquela fora uma “pegadinha” de um estagiário no longínquo ano de 2008.
Às 22h no Brasil a Associated Press anunciou sua vitória, com 35% dos votos apurados. Moreno tinha a preferência de 45% dos republicanos, contra 34% de Matt Dolan e 20% de Frank LaRose, que dividiram os votos mais “moderados”. Trump, sem opositor real, venceu as prévias presidenciais no estado com 78%. A ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Hakey, fora da disputa desde a Super Terça-Feira, no começo do mês, recebeu mesmo assim quase 20% dos sufrágios.
Moreno, de origem colombiana, estava ao lado do ex-presidente no último sábado, quando Trump comparou imigrantes a “animais” e profetizou que, em caso de derrota para Biden, ocorreria um “banho de sangue” no país, onde pleitos não seriam mais disputados. Por seu perfil mais à direita e inexperiência política, o vendedor de carros era, também, o favorito dos democratas para a disputa mano a mano em novembro.
Milionário dono do time de beisebol Cleveland Guardians e senador estadual (várias unidades da federação americana são bicamerais), Matt Dolan tinha o apoio do veterano governador Mike DeWine, raposa política de temperamento conciliador que perdeu sua cadeira no Senado justamente para Brown em 2006. Seu pupilo era o mais temido pelos democratas. Frank LaRose, por sua vez, é o secretário de Estado de Ohio de 44 anos que mira voos mais altos nos próximos anos.
A disputa de terça-feira em Ohio, com enredo de telenovela, era mesmo a mais crucial do novo capítulo das primárias. Seu resultado oferece desenho mais claro sobre o tamanho da pedreira que os democratas enfrentarão para tentar manter o Senado em novembro, estratégico para um eventual segundo mandato de Joe Biden. Ficou um pouco menos impossível. As informações são do jornal O Globo.