A expectativa em Israel é de que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, será mais acessível e irá apoiar o país em assuntos importantes, segundo Daniel Zonshine, embaixador de Israel no Brasil. “Se olharmos para as nomeações do presidente eleito até agora, acreditamos que nossa vida será um pouco mais fácil em Washington”, aponta o embaixador. “A relação seria forte independente de quem estivesse na Casa Branca, mas a expectativa é que o republicano seja mais confortável para Israel”.
Zonshine esteve em São Paulo durante o final de semana para participar da convenção nacional da Confederação Israelita do Brasil (CONIB). Ele avalia que a relação entre Israel e o governo brasileiro está bloqueada desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou a atuação do Exército de Israel na Faixa de Gaza com soldados da Alemanha Nazista, em fevereiro.
Lula é considerado persona non grata em Israel e retirou o então embaixador Frederico Meyer de Tel-Aviv após o enviado brasileiro ser convocado a participar de um evento ao lado do então chanceler israelense Israel Katz no Museu do Holocausto, em Jerusalém.
“Estamos em uma crise diplomática. O Brasil não tem embaixador em Israel. O último embaixador foi chamado para consultas e agora ele está em outro posto”, diz Zonshine. “Não temos acesso ao governo federal e o trabalho fica mais difícil”.
Confira trechos da entrevista concedida ao Estadão:
– Depois de mais de um ano de guerra, o conflito parece estar cada vez mais complicado. O senhor acredita que é possível chegar a um cessar-fogo em Gaza ou no Líbano?
Quando falamos sobre a Faixa de Gaza, a situação é mais complexa. Não existe nenhum governo em Gaza que possa governar no território, é diferente do Líbano onde existe um governo libanês.
Infelizmente o Hamas ainda é forte em Gaza, não tanto militarmente, mas no quesito governo o Hamas ainda é forte. Quando falamos de ajuda humanitária, o Hamas controla o que entra no enclave e também a distribuição disso.
Não queremos que o Hamas continue em Gaza porque eles não mudaram o seu principal objetivo: matar judeus em qualquer lugar.
– Na sua avaliação, quem poderia governar Gaza em um futuro sem o Hamas?
Faz mais sentido que uma entidade palestina governe Gaza. Não sei se a Autoridade Palestina ou outra entidade, junto com envolvimento internacional. Pode ser com a ajuda do Egito ou de outros países do Golfo.
Mas não é fácil. É preciso fazer muito por Gaza para que haja uma reconstrução. Estados Unidos e outros países do Ocidente também podem ajudar.
A entidade que governar Gaza precisa querer melhorar a vida dos palestinos em Gaza e não destruir Israel.
– O que muda para o governo de Israel com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos?
A relação entre Estados Unidos e Israel é muito importante para nós e continuaria boa independente de quem ganhasse nos Estados Unidos.
A expectativa de muitas pessoas em Israel é que Trump seja mais acessível e que irá apoiar questões que são importantes para Israel.
Mas precisamos esperar. Existe uma incerteza muito grande sobre o que Trump vai fazer. Temos que esperar. Se olharmos para as nomeações do presidente eleito até agora, acreditamos que nossa vida será um pouco mais fácil em Washington.
Nada deve mudar tão dramaticamente, mas a expectativa é que a administração Trump seja mais confortável para Israel.
– A relação de Israel com o Brasil deve mudar com Trump na Casa Branca?
É difícil dizer. Não acho que as relações do Brasil com os Estados Unidos vão mudar tanto assim. Os políticos brasileiros sabem do papel dos Estados Unidos no mundo.
Não sabemos ainda o que vai mudar na relação entre Brasil e Israel, depende muito da posição brasileira. A expectativa é que o Brasil se ajuste a Washington e não o contrário, então precisamos esperar para ver.
– Com Trump na Casa Branca, o senhor acredita que é possível que Israel e Arábia Saudita cheguem a um acordo de paz?
A Arábia Saudita é o próximo país que poderia aderir aos Acordos de Abraão, segundo as últimas conversas. Seria muito importante para nós e para todo o Oriente Médio. Eles tem uma ótima economia e muita influência na região. Estamos otimistas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo