Um estudo publicado na revista Nature colocou lenha na fogueira do debate sobre as causas do câncer ao concluir que até 90% de todos eles têm sua origem em fatores externos, ou seja, não são produto de um DNA desfavorável ou simplesmente do azar. “É importante que a população fique sabendo disso”, disse Song Wu, professor da Universidade de Stony Brook, nos Estados Unidos, líder do estudo. Segundo ele, mais esforços devem ser empenhados à prevenção da doença e não só à cura.
O pesquisador defende que a população deve pressionar os governos para proteger o meio ambiente do excesso de poluentes e produtos químicos. O paradigma até então mais aceito pelos cientistas era que a causa da maior parte dos cânceres era, literalmente, azar. Quanto mais velhos ficamos, mais vezes nossas células se dividem, e cada uma dessas divisões tem uma pequena probabilidade de ter mutações.
Entretanto, o estudo liderado por Wu concluiu que isso é só uma pequena parte da história. Se a aleatoriedade sempre respondesse pelo aparecimento de tumores, células que ao longo da vida acumulam o mesmo número de divisões teriam probabilidade semelhante de originar um, independentemente do órgão que formassem (e consequentemente, a que substâncias fossem expostas), mas a análise estatística feita pelo grupo mostrou o contrário. Além disso, o pesquisador observa, é notória a diferença de incidência de diversos tipos de câncer em diferentes regiões do planeta. Dados populacionais mostram que ao mudar de país, a incidência na população migrante muda rapidamente, refletindo o novo estilo de vida adotado.
Por outro lado, os fatores de risco conhecidos até hoje, se considerados de forma isolada, só respondem por um terço de todos os cânceres. O problema que os cientistas têm em quantificar os fatores de risco é a dificuldade em isolá-los. O cigarro é uma exceção. Por ser tão extraordinariamente danoso para a saúde, seus efeitos são bem óbvios em todos os estudos. “Fumar apenas cinco cigarros por dia já dobra sua chance de morrer nos próximos 15 anos”, afirma Valerie Beral, professora da Universidade de Oxford (Inglaterra). Além do câncer de pulmão, o tabagismo aumenta as chances de desenvolver pelo menos 14 tipos diferentes da doença, como o de estômago, garganta, bexiga e rim.
Estilo de vida.
Para os não-fumantes, o maior fator de risco identificado é um conjunto de coisas que Jane Green, também professora da Universidade de Oxford, chama de “estilo de vida ocidental”. Dieta pobre em frutas e verduras, excesso de peso, sedentarismo e ingestão excessiva de álcool, açúcar e carnes processadas.
Cada um desses aspectos tem um risco pequeno de causar câncer, mas sua combinação tem efeitos surpreendentes. Há ainda vários fatores que intuitivamente se pensa serem relevantes e que a ciência ainda não conseguiu provar que o são, como stress e uso excessivo de fertilizantes e pesticidas. O problema é que é muito difícil quantificar a exposição de cada pessoa a esses agentes, e de separar seus efeitos de outros. (Folhapress)