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Estratégia de segurança nacional de Biden descreve Rússia como ameaça “imediata”, mas foca em conter ascensão da China

Grande parte da estratégia militar destina-se a combater a China no espaço, ciberespaço e no mar. (Foto: Reprodução)

O governo nos Estados Unidos lançou sua estratégia de segurança nacional que lista como maiores desafios para os próximos anos “superar a China” e “conter a Rússia”, em um momento de acirramento das tensões sino-americanas e com a guerra na Ucrânia já passando de 200 dias. Deixa claro, contudo, que a prioridade americana é fazer frente à ascensão de Pequim nesta “década decisiva”.

O plano de 48 páginas, o primeiro desde que o presidente Joe Biden chegou à Casa Branca, tem por fim servir de guia e mandar sinais — tanto para aliados quanto adversários —, toca em pontos tão diversos quanto o controle da inflação à política para o Ártico. Não faz qualquer menção direta ao Brasil, tendo apenas a vaga promessa de “mobilizar financiamento e outras formas de apoio para promover a conservação da Amazônia”.

Pelo documento, os pontos-chave da Defesa de Biden, às vésperas das eleições legislativas de novembro, são Moscou e Pequim:

“Rússia e a República Popular da China representam desafios diferentes”, afirma o texto. “A Rússia representa uma ameaça imediata para um sistema internacional livre e aberto, imprudentemente ignorando as leis básicas da ordem internacional vigente, como a brutal guerra de agressão contra a Ucrânia mostra”.

A China, por outro lado, é o único país com a “intenção de remodelar a ordem internacional e, cada vez mais, poder econômico, diplomático, militar e tecnológico para avançar este objetivo”. As políticas de Xi Jinping, diz o documento, almejam “sobrepôr sua governança autoritária com uma política externa revisionista”.

Maior desafio

Para conter Pequim, Biden traça três pontos: investir na “competitividade, inovação, resiliência e democracia” domésticas; “alinhar” os esforços com aliados e parceiros, “agindo com propósito e em causa comum”; e “competir responsavelmente com a China para defender nossos interesses e construir nossa visão para o futuro”.

A seção militar deixa claro os esforços para competir com os chineses nas frentes espaciais e ciberespaciais, além da marítima, instando seus aliados para uma ação conjunta. O plano vem dois meses após controvertida visita da presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, a Taiwan, ilha vista como província rebelde pelos chineses. Pequim respondeu com suas maiores manobras militares na região, além de um endurecimento retórico.

A estratégia também acusa Pequim de ter ambições de “criar uma esfera reforçada de influência no Indo-Pacífico e se tornar a principal potência global” — esforços aos quais Biden responde com iniciativas com uma cúpula no mês passado para ilhas do Pacífico Sul.

Rússia na mira

As diretrizes deviam ter sido lançadas no início do ano, mas foram adiadas quando ficou claro que a invasão russa na Ucrânia era iminente, o que forçou uma revisão dos planos. Após anos quatro anos de uma gestão republicana que estremeceu a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan), o documento celebra a aliança militar e seus aliados europeus, reforçando seu alerta para Moscou:

“Os EUA não permitirão que a Rússia, ou qualquer potência, atinja seus objetivos com o uso, ou ameaças de usar, armas nucleares”, sem dizer quais são as linhas vermelhas americanas ou como Washington e seus aliados pretendem responder se Putin recorrer ao seu arsenal atômico, o que vem ameaçando fazer.

Moscou, afirma o líder da Casa Branca, “representa uma ameaça imediata e persistente à ordem internacional”, reforçada pelo colapso das conversas para uma “estabilidade estratégica” na contenção dos arsenais nucleares dos dois países, os maiores do mundo. Também citou a China, que aumenta sua capacidade bélica, afirmando que na próxima década, pela primeira vez, Washington precisará “deter duas grandes potências nucleares”.

Amazônia

O documento não tem uma seção específica para a América Latina, menos prioritária na agenda do presidente americano. No trecho em que trata mais diretamente do Brasil, os americanos prometem mobilizar os recursos para promover a conservação da Amazônia, mas não deixam claro como pretendem fazê-lo. Dizem também que irão promover investimentos para acelerar a transformação verde da região e lançar mão de esforços de adaptação e mitigação — apesar dos compromissos americanos neste sentido até agora serem considerados aquém do necessário por ativistas.

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