De frente para a câmera, Christopher Kirk conta a sua história. Uma história que muitos roteiristas adorariam ter inventado. Ar inocente e desamparado, Chris atribui a hipopótamos criados pelo megatraficante colombiano Pablo Escobar a reviravolta em sua vidinha modorrenta de técnico de computação. Com mochila nas costas, o americano tranquilo embarcou para Bogotá, onde se apaixonou perdidamente pela misteriosa V., que enrola o namorado em tramas rocambolescas, envolvimento com personagens sinistros, viagens extravagantes e consequências pesadas – a prisão por tráfico de drogas, o único dado 100% comprovado da “confissão”.
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“A vida privada dos hipopótamos”teve início em 2011, quando os diretores Maira Buhler e Matias Mariani realizaram “Ela sonhou que eu morri”, documentário sobre estrangeiros encarcerados em São Paulo, entre eles Kirk, que, devido ao seu “talento” narrativo, mereceu um longa-metragem.
É provável que outros realizadores saíssem em campo para apurar fatos tão improváveis. Maira e Matias, no entanto, preferiram apostar na varredura do HD do computador do personagem, oferecido pelo próprio. A montagem, primorosa e criativa, tenta estabelecer links entre mensagens, imagens, entrevistas por skype, gravações no youtube e, assim tentar preencher hiatos, lacunas e buracos negros de uma trama se não vivida, pelo menos narrada por habilíssimo manipulador.
Pelo que “Hipopótamos” mostra, está “tudo” documentado. Quanto a ser “tudo verdade”, no entanto, vai alguma distância. Embora nem tudo deva ser mentira, o resultado é intrigante e divertido, apesar de perder força no final e reforçar a tese sobre a crescente diluição de fronteiras entre ficção e documentário.