Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 22 de janeiro de 2016
Cientistas brasileiros e americanos identificaram uma estrela que pode ajudar a desvendar mistérios sobre a infância da Via Láctea, galáxia na qual está inserida o nosso Sistema Solar. Batizada de 2MASS J18082002-5104378, o astro é mais velho do que o Sol, teria surgido em um período no qual existiam apenas os elementos químicos hidrogênio e hélio, além de uma quantidade reduzida de lítio. Por isso que os corpos celestes daquela época são conhecidos hoje como estrelas pobres em metais. A 2MASS coleciona características instigantes para a astronomia. É tão primitiva que entrou na categoria das UMP (estrelas ultrapobres em metais) – clube exclusivo dos astros cuja quantidade de metal é 1/10000 da observada no Sol. Também é a UMP mais brilhante descoberta até hoje.
O professor de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas Jorge Meléndez liderou a pesquisa. Espécie de “arqueólogo galáctico”, ele calcula que a 2MASS tem cerca de 13 bilhões de anos, ou seja, é 8,5 bilhões de anos mais velha que a Terra e 8,6 bilhões do que o Sol. “A temperatura dessa estrela é de cerca de 5,1 mil graus Celsius. É muito fria, já destruiu parte do seu lítio original, aquele formado no começo do Universo”, avalia Meléndez, cuja equipe utilizou o Telescópio Very Large Telescope, no Chile, para fazer a descoberta. “Nossa maior conquista foi descobrir uma estrela UMP tão brilhante. A única que se conhecia até agora com esta característica foi vista há mais de 30 anos por cientistas australianos.”
A identificação das estrelas ultrapobres é uma das áreas mais promissoras da astronomia. Com a evolução do Universo, os metais formaram-se com fusões nos núcleos das estrelas, e esses elementos pesados expandiram-se formando corpos celestes cada vez mais ricos. Meléndez, que se dedica à caça de UMPs desde 2013, monitora cerca de 2 mil corpos celestes que podem se encaixar no quesito.
“Se encontrarmos uma estrela 10% mais quente do que a 2MASS, é possível que ela tenha preservado a pequena quantidade de lítio de sua origem e, aí, teremos informações diretas sobre o Big Bang [explosão que teria dado origem ao Universo]”, explica.
“Infelizmente, a observação dessas estrelas é dificultada pela infraestrutura. Hoje, os telescópios têm, no máximo, 8 metros. Para um estudo detalhado, precisamos de um com mais de 20 metros”, completa o professor. Já existem projetos em andamento, mas sem previsão de conclusão até 2025. (AG)